Região entre Sergipe, Alagoas e nordeste da Bahia atrai olhares de investidores e produtores pelo potencial para grãos, frutas e sementes
A paisagem agrícola do Brasil volta a ganhar contornos renovados no Nordeste. A região do Sealba — que reúne partes de Sergipe, Alagoas e do nordeste da Bahia — desponta como uma das mais promissoras fronteiras agrícolas do país. Mais do que uma sigla, o Sealba representa um novo polo de oportunidades em grãos, frutas, sementes e integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), atraindo tanto agricultores quanto investidores.
Identificada há alguns anos pela Embrapa Tabuleiros Costeiros, a região soma 171 municípios e cerca de 5 milhões de hectares agricultáveis, segundo dados recentes da instituição. Embora ainda pouco explorado comercialmente, a região tem clima e solo ideais para a produção de milho, soja, raízes tropicais, frutas e florestas plantadas.
É só olhar para o mapa (abaixo) que fica claro que o Sealba não é uma fronteira inédita, descoberta por pesquisadores. É um lugar reinventado. O que muda ali é a produção. Ainda que não estivesse no centro geográfico produtivo, essas terras são aproveitadas desde o Ciclo do Açúcar, no Brasil Colonial, entre os séculos XVI e XVIII, sustentado pela monocultura e mão de obra escrava. Também não se trata da Zona da Mata, que percorre da Bahia ao Rio Grande do Norte. O Sealba fica em uma área de transição entre a Mata Atlântica e a Caatinga, onde a produção é beneficiada por técnicas agrícolas e a proximidade do mar, o que cria condições climáticas mais amenas.
“É uma área de alto potencial, ainda pouco aproveitada, mas com grande capacidade de transformação para a agricultura moderna”, afirma Alderi Araújo, diretor de Governança e Informação da Embrapa. Segundo ele, a delimitação ajuda a orientar políticas públicas específicas para pequenos e médios produtores.
Vantagens que diferenciam o Sealba
O grande atrativo do Sealba está na combinação de condições climáticas, logísticas e agrícolas únicas, que o tornam uma alternativa estratégica às fronteiras tradicionais, como o Centro-Sul e o Matopiba – formado por trechos do sul do Maranhão, Tocantins, sul do Piauí e oeste da Bahia.
Vantagens climáticas
A região possui temperaturas noturnas mais amenas — que podem chegar a 18°C, mesmo em baixas altitudes — favorecendo o cultivo de soja e outras culturas. Esse fator reduz a taxa de respiração das plantas e melhora a qualidade dos grãos, sobretudo no que diz respeito ao teor de óleo e proteína.
Além disso, o regime de chuvas concentrado entre abril e setembro, aliado ao clima mais frio no inverno, cria condições propícias tanto para a produção vegetal quanto para a pecuária integrada.
Vantagens logísticas
O Sealba conta com uma posição geográfica estratégica, com proximidade de portos marítimos — como o Porto de Maceió (AL) e o Porto de Barra dos Coqueiros (SE) — e fácil acesso a malhas rodoviárias que conectam a produção agrícola a centros consumidores do próprio Nordeste e às rotas de exportação. Essa infraestrutura reduz custos e amplia a competitividade dos produtos da região no mercado internacional.
Vantagens de época de plantio
Diferente do ciclo tradicional brasileiro, o plantio no Sealba ocorre de abril a junho, com colheita entre agosto e outubro. Essa época de produção fora do padrão nacional permite comercializar a safra em períodos de entressafra nas demais regiões, aumentando a possibilidade de preços mais elevados para os produtores.
Vantagens de produção
O potencial do Sealba vai além dos grãos. A região apresenta excelente aptidão para a produção agropecuária de sequeiro, com destaque para a diversidade agrícola: soja, milho, feijão, arroz, amendoim, cana-de-açúcar, frutas tropicais e pastagens.
Essa diversidade permite reduzir riscos climáticos e aproveitar melhor os recursos naturais, favorecendo também a adoção de sistemas como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), que cresce rapidamente no Sealba.
Vantagens de exportação
A proximidade dos portos facilita o escoamento da produção agrícola, elevando a competitividade dos grãos para o mercado externo. Com isso, o Sealba passa a ser visto não apenas como fornecedor de matéria-prima para o Nordeste, mas também como um futuro player relevante na exportação de soja, milho e frutas.
Sealba Show impulsiona a visibilidade do novo polo
A força desse novo capítulo agrícola se reflete em eventos como o Sealba Show, feira que ganhou relevância na agenda do agronegócio nordestino. A feira reúne produtores, pesquisadores e empresas que apostam no potencial da região, trazendo soluções em tecnologia, inovação e práticas sustentáveis.
Para Carlos Machado, um dos organizadores do evento, o Sealba Show nasceu para fomentar uma transformação real: “Queremos mostrar que é possível fazer uma agricultura moderna e rentável aqui, aproveitando o que a região tem de melhor — a diversidade de culturas, o clima favorável e a logística privilegiada”, afirma.
Machado destaca ainda que o Sealba oferece ganhos importantes para a produção de sementes: “Temos condições ideais para produzir sementes de soja e milho de altíssima qualidade, abastecendo o próprio Nordeste e outras regiões do Brasil que plantam no segundo semestre”, completa.
Futuro promissor e desafiante
Apesar do grande potencial, o Sealba ainda enfrenta obstáculos para sua consolidação, como a necessidade de maiores investimentos em infraestrutura logística e programas de apoio técnico aos pequenos produtores.
“É um território promissor, mas é preciso planejamento e apoio estruturado para que ele se desenvolva de forma ordenada e sustentável”, alerta Araújo.
Ainda assim, o otimismo é a tônica entre os agentes do setor. De um conceito pouco conhecido, o Sealba avança para ocupar um lugar de destaque no mapa agrícola do Brasil — com suas particularidades, seus desafios e, principalmente, seu imenso potencial.
