Boletim de MR sobre medicina, pesquisa, inovação, saúde mental, negócios e políticas públicas
Medicamentos para perda de peso afetam vista de diabéticos
O uso de emagrecedores, como o Ozempic, pode ampliar o risco de degeneração macular em adultos idosos diabéticos. Esse efeito colateral foi constatado em um estudo canadense publicado na Jama Ophthalmology. Após seis meses de consumo, os receptores de peptídeos (GLP-1 RAs) que ajudam a reduzir os níveis de açúcar no sangue, retardando a digestão e reduzir o apetite, ampliam a deterioração relacionada à idade neovascular, em comparação com pacientes diabéticos que não tomam os medicamentos. A degeneração macular compromete a região central da retina, responsável pela visão detalhada e central
Os pesquisadores da Universidade de Toronto chegaram a esta conclusão após examinarem dados médicos de mais de 1 milhão de residentes de Ontário com diagnóstico de diabetes. Eles identificaram 46.334 pacientes com idade média de 66 anos que receberam prescrição de GLP-1 RAs. Quase todos (97,5%) estavam tomando semaglutida, enquanto 2,5%, lixisenatida. O estudo não excluiu nenhuma marca de medicamento, mas como o Wegovy só foi aprovado no Canadá em novembro de 2021, é provável que a maior parte estivesse tomando Ozempic, que é prescrito para diabetes.
Cada usuário de semaglutida ou lixisenatida foi pareado com dois pacientes semelhantes que também tinham diabetes, mas não tomavam os medicamentos. A seguir foram comparados quantos pacientes desenvolveram degeneração macular relacionada à idade ao longo de três anos. O estudo constatou que aqueles que tomavam semaglutida ou lixisenatida por pelo menos seis meses tinham o dobro do risco de desenvolver o problema.
RNA mensageiro é a nova esperança de cura do HIV

Um dos principais desafios na busca da cura do HIV é encontrar uma maneira de fazer o vírus sair do abrigo que encontra dentro dos glóbulos brancos dos infectados. A novidade é que pesquisadores do Instituto Peter Doherty de Infecção e Imunidade, em Melbourne, Austrália, demonstraram uma maneira de tornar o vírus visível, abrindo caminho para sua eliminação. A solução se baseia na tecnologia de mRNA (RNA mensageiro), que ganhou destaque durante a pandemia de covid-19 na forma das vacinas da Moderna e Pfizer/BioNTech.
Em um artigo publicado na Nature Communications, eles demonstraram pela primeira vez que o mRNA pode ser introduzido nas células onde o HIV está escondido, encapsulando-o em uma pequena bolha de “gordura” especialmente formulada – nanopartículas lipídicas (LNPs). A seguir, o mRNA “instrui” os glóbulos brancos a “revelar” o vírus. A partir daí, seria possível atacar o HIV, tornando-o inerte.
“Anteriormente, era considerado impossível” entregar mRNA ao tipo de glóbulo branco que abriga o HIV, disse a Paula Cevaal, coautora do estudo, porque as células não absorviam as bolhas de gordura ou as nanopartículas lipídicas usadas para carregá-lo. As LNPs são partículas em nanoescala que podem ser utilizadas como um sistema de entrega de fármacos, genes ou outros compostos.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) existem quase 40 milhões de pessoas vivendo com HIV, que precisam tomar medicamentos pelo resto da vida para minimizar e controlar os efeitos do vírus. Para muitos, a doença continua mortal. Dados da Assembleia Mundial da Saúde (UNAids) indicam que uma pessoa morre de HIV a cada minuto.
Oncologistas alertam contra charlatanismo dos enemas de café e dietas
Desesperados e fragilizados, pacientes de câncer estão ignorando tratamentos comprovados em favor de charlatanismo, como enemas de café e dietas de sucos naturais, alertaram oncologistas na reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco, na sigla em inglês), ocorrido entre 30 de maio a 3 de junho.
Pesquisadora e professora no MD Anderson Cancer Center, em Houston, Texas, Fumiko Chino foi coautora de um artigo apresentado no congresso que afirma que a desinformação “piorou drasticamente na última década”. Seu estudo aponta que com mais pessoas diagnosticadas em meio a uma população global crescente e envelhecida, informações enganosas ou falsas sobre câncer se tornaram uma preocupação para a saúde pública.
O estudo de Chino constatou que mais da metade dos entrevistados acredita que os especialistas parecem se contradizer. E um em cada 20 não confiava nos cientistas para fornecer informações sobre o câncer. “Estamos perdendo a batalha pela comunicação. Precisamos reconquistar esse campo de batalha”, disse.
Diretora médica da Asco, Julie Gralow confirmou: “Vários pacientes meus queriam uma abordagem totalmente natural depois que expliquei minhas recomendações. Eles acessam a internet, pesquisam e encontram uma clínica no México que promete um tratamento totalmente natural para o câncer, que inclui hidrocolonterapia com cafeína, infusões de vitamina C e outros tratamentos.”
Em vez de repreender os pacientes por evitarem cirurgia, radioterapia ou quimioterapia, Gralow disse ao Guardian que tenta ganhar a confiança deles oferecendo apoio. “Em vários casos, eles retornaram após três meses e não se sentiram melhor”. E emendou: “Algumas vezes, eles não retornaram. Então descobri que haviam morrido tragicamente.”
O que MR publicou
- Althaia inicia obras de nova unidade em Poços de Caldas (MG)
- Ozempic e Wegovy ficam mais baratos a partir desta segunda (2)
Prótese de joelho mais leve e barata é desenvolvida na Unesp

Uma pesquisa de mestrado em tecnologia de materiais da Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista (Unesp) mostrou que um novo modelo de prótese para joelho pode ser uma alternativa viável às oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Um protótipo de joelho monocêntrico mostrou-se tão eficiente quanto, porém com a possibilidade de produção a um custo bem mais baixo.
No Brasil há cerca de 5 milhões de pessoas com 60 anos ou mais que possuem algum grau de deficiência nos membros inferiores, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde de 2019. Cerca de 85% delas passaram por amputações acima ou abaixo do joelho. Uma das principais alternativas para melhorar a mobilidade e a qualidade dos amputados são as próteses personalizadas, disponíveis em vários modelos, em combinação com programas de reabilitação física e treinamento. O SUS fornece uma prótese de joelho em aço inoxidável que pesa 890 gramas e custa em cerca de R$ 4,6 mil ao Estado. O modelo não possui trava automática ou controle hidráulico, o que exige maior esforço e eleva o risco de queda.
Já a prótese criada no Laboratório de Anelasticidade e Biomateriais da Faculdade de Ciências da Unesp, câmpus de Bauru, em aço inóx e polipropileno, pesa 740 g e tem custo final de cerca de R$ 2,5 mil. O protótipo vem com mola interna para ajuste de flexão/extensão e trava acionada automaticamente, reduzindo o esforço, aumentando a estabilidade e com menor necessidade de manutenções, o que o tornaria adequado ao SUS.
De acordo com a Unesp, os primeiros ensaios clínicos do “joelho monocêntrico para amputados transfemorais idosos” apresentaram resultados positivos. Os testes iniciais envolveram três voluntários com mais de 65 anos que tiveram uma perna amputada acima do joelho em consequência de causas traumáticas ou vasculares. Primeiro eles utilizaram a prótese convencional oferecida pelo SUS. A seguir, ficaram com o novo modelo por seis meses. Depois, compararam ambas nos quesitos velocidade da marcha e facilidade para levantar e sentar. Por último, eles responderam a um questionário sobre qualidade de vida.
O que é a hidrocefalia normobárica que afetou Chico Buarque

Na terça-feira (3), o cantor Chico Buarque precisou passar por uma cirurgia neurológica para tratar uma hidrocefalia normobárica. A condição ocorre quando há excesso de líquor – fluido que reveste o sistema nervoso central – acumulado no cérebro. Mesmo sem provocar aumento da pressão intracraniana, a hidrocefalia pode impactar os movimentos das pernas, a cognição e a capacidade de controle urinário.
A drenagem foi realizada por meio de uma derivação ventrículo peritoneal, procedimento que consiste na implantação de uma válvula capaz de drenar o líquido em excesso para a cavidade abdominal. Buarque foi diagnosticado precocemente durante um check-up.
O neurocirurgião Fernando Gomes, professor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), explicou que essa é uma cirurgia de complexidade intermediária, mas permite que o paciente recupere as funções prejudicadas assim que a drenagem se normaliza.
Se a condição não for diagnosticada a tempo e tratada, as consequências podem ser drásticas. “A pessoa pode ficar totalmente incapaz de andar, evoluir para um quadro demencial sério e de incontinência urinária e fecal. É uma condição bastante complicada. A pessoa não morre diretamente por hidrocefalia de pressão normal, mas tem a vida abreviada por questões que vêm em conjunto com essa piora das condições de saúde”, disse Gomes.
Sintomas
- “Marcha magnética”, quando o paciente tem alguma dificuldade de tirar os pés do chão para caminhar, ficando como que travado;
- Incontinência urinária;
- Declínio cognitivo.
- Como nem sempre os sintomas aparecem juntos, qualquer redução da capacidade cognitiva ou motora deve ser avaliada por uma especialista.
Brasil reduz transmissão do HIV vertical e pede certificado da Opas
O Ministério da Saúde entregou nesta terça-feira (3) à Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS) um relatório com dados sobre redução da transmissão do HIV de mãe para filho, a chamada transmissão vertical. Em 2023, a taxa foi menor que 2%. E a incidência de HIV em crianças foi inferior a 0,5 caso por mil nascidos vivos.
A entrega do relatório aconteceu no Rio de Janeiro durante o XV Congresso da Sociedade Brasileira de Doenças Sexualmente Transmissíveis (SBDST), XI Congresso Brasileiro de Aids e VI Congresso Latino-Americano de IST/HIV/Aids.
Com os resultados, o Brasil pleiteia a certificação internacional de eliminação da transmissão vertical do HIV.
O dossiê afirma que o Brasil é o maior país do mundo a ter alcançado a eliminação da transmissão vertical do HIV. O representante da OPAS no Brasil, Cristian Morales, reforçou a conquista dos resultados pelo país, que pode se juntar a outros 19 pelo mundo que eliminaram a transmissão vertical.
A taxa de mortalidade por aids no Brasil foi de 3,9 óbitos em 2023, a menor desde 2013. Em 2023 e 2024, o país registrou mais de 95% de cobertura de pelo menos uma consulta pré-natal, testagem de HIV em gestantes e tratamento de gestantes vivendo com HIV e/ou aids.
Também foram lembradas as estratégias de prevenção, como Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), que teve 184.619 usuários em 2025. Para o ministério, a distribuição gratuita nos Sistema Único de Saúde (SUS) é essencial para prevenir a infecção pelo HIV. Outro destaque é a expansão dos testes rápidos do tipo duo HIV e sífilis, em que gestantes tem prioridade.
(com Agência Brasil, Jama, OMS, Unesp e Asco)