Boletim de MR sobre medicina, pesquisa, inovação, saúde mental, negócios e políticas públicas
Medicamentos contra o HIV protege do Alzheimer
Pesquisadores da Universidade da Virgínia descobriram que medicamentos usados contra o HIV, especificamente os inibidores nucleosídeos da transcriptase reversa (ITRNs), podem reduzir significativamente o risco de Alzheimer. Ao analisarem dois grandes bancos de dados de saúde, constataram que o uso desses medicamentos resultou em uma redução anual de 6% a 13% no risco de desenvolver a doença. A equipe liderada por Jayakrishna Ambati estima que, se confirmados, esses efeitos podem evitar cerca de 1 milhão de novos casos de Alzheimer por ano, trazendo um impacto relevante na saúde pública global.
A possível explicação para esse efeito está no fato de que os ITRNs não apenas combatem o HIV, mas também bloqueiam a ativação de inflamossomos — proteínas do sistema imunológico associadas ao desenvolvimento do Alzheimer. O estudo revisou dados de mais de 270 mil pacientes com HIV ou hepatite B, todos com mais de 50 anos e sem diagnóstico prévio da doença. Após ajustes por comorbidades, a redução no risco permaneceu estatisticamente significativa. Interessantemente, pacientes que usavam outros medicamentos contra HIV não apresentaram o mesmo benefício, o que reforça a necessidade de ensaios clínicos específicos com os ITRNs para avaliar seu potencial preventivo contra o Alzheimer.
Como injeções emagrecedoras podem melhorar a economia britânica
A pesquisa sobre o uso de injeções para perda de peso, como o semaglutide, sugere que a distribuição desse medicamento pode impulsionar a economia do Reino Unido em £4,5 bilhões por ano, ao melhorar a produtividade das pessoas que o utilizam. O estudo, baseado em ensaios clínicos com participantes com obesidade e diabetes tipo 2, revelou que os usuários do semaglutide aumentaram sua produtividade em cinco dias de trabalho e realizaram 12 dias de trabalho não remunerado, como voluntariado e cuidados infantis. A medicação também foi associada a benefícios adicionais, como redução do consumo de alimentos. Embora o medicamento tenha custos elevados, especialistas destacam o impacto positivo potencial na saúde pública e na economia, embora seja necessário restringir seu uso devido aos custos. Além disso, o semaglutide demonstrou eficácia no tratamento de vícios, como o alcoolismo, com uma redução significativa no consumo de álcool entre os pacientes.
Inflamação no cérebro induzida por dieta gordurosa atrai células imunes

Pesquisadores da Unicamp investigaram como dietas ricas em gordura provocam inflamação no hipotálamo, região do cérebro ligada ao controle do metabolismo. O estudo mostrou que, além das micróglias (células imunes residentes no cérebro), outras células de defesa vindas de fora, que expressam o receptor CXCR3, também são recrutadas para ajudar a conter a inflamação causada pelo excesso de gordura. Quando esse recrutamento foi bloqueado em testes com animais, observou-se maior ganho de peso, acúmulo de gordura e piora de indicadores metabólicos.
A pesquisa também revelou que o hipotálamo é especialmente vulnerável à entrada de ácidos graxos por possuir uma área com barreira hematoencefálica mais permeável. Esses lipídios chegam rapidamente ao cérebro e ativam a inflamação. Além disso, foram identificadas diferenças significativas entre machos e fêmeas na resposta das células imunes, sugerindo que o sexo pode influenciar o risco de obesidade relacionado à dieta.
Esses achados ajudam a entender melhor os mecanismos cerebrais ligados à obesidade e apontam a via de recrutamento das células CXCR3 como um possível alvo terapêutico. A descoberta abre caminho para o desenvolvimento de medicamentos que combatam a obesidade e doenças associadas, como o diabetes tipo 2.
Teste a idade de seus reflexos
O tempo de reação pode ser um importante indicativo da saúde geral, incluindo funções cerebrais e risco de morte precoce. A partir dos 30 anos, o tempo de reação tende a diminuir, mas manter um bom desempenho pode sinalizar boa saúde cerebral e cardiovascular. O “teste da régua que cai” é uma forma simples de medir a velocidade de reação em casa, e o desempenho pode ser correlacionado a diversos riscos de saúde, como doenças cardíacas e AVC. Com o tempo, o declínio da reação pode ser um sinal de envelhecimento físico e cognitivo. Para medir, basta seguir as instruções do teste da régua, onde a distância que você pega a régua após ela cair indica o seu tempo de reação. Além disso, atividades que combinam movimento e cognição, como exercícios físicos e intelectuais, podem ajudar a melhorar o tempo de reação e retardar o declínio.
Instruções para o teste caseiro
- Sente-se com o braço repousado sobre uma mesa e o polegar e indicador voltados para cima.
- Peça a um parceiro para segurar uma régua verticalmente alinhada ao seu polegar, com o número “zero” no topo.
- Seu parceiro deve deixar cair a régua sem aviso, e você tenta pegá-la o mais rápido possível.
- Meça a distância que a régua percorre antes de ser pega para avaliar seu tempo de reação.
Interpretação dos resultados:
Mais de 28 cm: desempenho ruim.
Menos de 7,5 cm: desempenho excelente.
Entre 7,5 cm e 15,9 cm: acima da média.
Entre 15,9 cm e 20,4 cm: média.
Acima de 20,4 cm: abaixo da média.
O que MR publicou
- Novo Nordisk surpreende, mas vendas devem cair
- Lucro da Rede D’Or salta 27,7% no trimestre e atinge R$ 1,07 bi
Quanto custa vencer o câncer nos EUA
Uma jornalista diagnosticada com múltiplos mielomas — câncer incurável que destrói ossos — passou a usar o Revlimid, um remédio derivado da infame talidomida. Apesar de salvar vidas, o Revlimid custa quase US$ 1.000 por cápsula, mesmo custando apenas centavos para ser produzido. Investigando o porquê, ela revelou como a farmacêutica Celgene inflacionou o preço por décadas. A história também resgata a luta de uma advogada para salvar o marido com a mesma doença, o que impulsionou a redescoberta do potencial anticâncer da talidomida.
Estudo revela impacto de alimentos na saúde e no meio ambiente

Um estudo da Universidade de São Paulo (USP) revelou o impacto de alimentos na saúde dos brasileiros, calculando o tempo de vida saudável que se ganha ou perde com cada porção. Usando o Índice Nutricional de Saúde (HeniI), o estudo constatou que alimentos como bolacha recheada e carne suína reduzem a vida saudável, enquanto itens como banana, feijão e peixe de água doce proporcionam ganhos. A pesquisa mostrou que a dieta brasileira, com consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, tende a prejudicar a saúde, mas pequenas substituições podem melhorar o saldo nutricional. Além disso, o estudo também considerou os impactos ambientais dos alimentos, apontando que os de origem animal têm os maiores efeitos negativos, especialmente em emissões de CO2 e consumo de água.
Covid-19: vacina de RNA da Fiocruz tem eficácia em testes com animais
A vacina contra a covid-19 desenvolvida pela Fiocruz, utilizando tecnologia de RNA mensageiro, demonstrou excelente eficácia nos testes em animais, com resultados comparáveis às vacinas da Pfizer e Moderna. A produção da vacina é realizada na unidade de Bio-Manguinhos, e os testes de segurança estão em fase final, com previsão de conclusão até julho. A expectativa é que a vacina brasileira seja autorizada para testes em humanos até o final de 2025, oferecendo uma alternativa mais barata para o Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, a tecnologia de RNA tem potencial para ser adaptada para vacinas contra outras doenças, como leishmaniose e tuberculose, e também para terapias genéticas e contra câncer
Cirurgia de lábio leporino será obrigatória
O presidente Lula sancionou uma lei que obriga o SUS a oferecer cirurgia reconstrutiva para lábio leporino e fenda palatina, além de tratamentos pós-cirúrgicos, como fonoaudiologia, psicologia e ortodontia. A medida também garante atendimento especializado a recém-nascidos diagnosticados com a malformação, com acompanhamento clínico e programação de cirurgia reparadora. A lei, aprovada pelo Congresso, visa garantir que crianças nascidas com essa condição recebam tratamento adequado desde cedo, prevenindo problemas de desenvolvimento, alimentação e sociais.
(com Agência Brasil, Agência Fapesp, Science Daily )