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Zema: um sincericida pode se candidatar à presidência?

De tempos em tempos, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, dá declarações que repercutem e causam polêmica. Dessa vez, em um evento em Belo Horizonte, disse que homens brancos, heterossexuais e bem-sucedidos são rotulados no Brasil como carrascos. “Qualquer rótulo é perigoso. Tem político honesto e desonesto, tem empresário honesto e desonesto”, afirmou.

Não se pode dizer que o governador tenha necessariamente errado ao formular seu raciocínio. Há, de fato, muita gente que rotula o comportamento de determinadas pessoas ao ver cor da pele, opção sexual e nível socioeconômico. Mas entrar nesse tipo de discussão, convenhamos, é dar um tiro no pé. De um lado, se massageia o ego dos eleitores de Direita. Mas, ao mesmo tempo, cria desconforto com centristas e esquerdistas.

Ao mesmo tempo, Zema chama para si a atenção de uma militância que tem o poder de prejudicar sua imagem especialmente junto aos eleitores de Centro – um quadrante político importantíssimo para quem tem aspirações políticas ambiciosas.

Pode-se dizer, ao contrário do que se pensa, que o governador de Minas não é um político que tem raízes no empresariado. Ele, no fundo, é um empresário que está no ramo da política. Há um lado excelente nisso: uma gestão moderna e sintonizada com a eficiência e austeridade. Porém, há o contraponto: Zema se comunica ao público, em eventos abertos, como se estivesse falando apenas para seus colegas de empresariado. Some-se isso a uma vocação para falar sobre temas polêmicos e temos um sincericida ganhando manchetes na imprensa nacional. Alguém com esse perfil pode ganhar uma eleição presidencial?

É possível. Jair Bolsonaro ganhou em 2018 se manifestando com desembaraço na seara das opiniões politicamente incorretas. Ocorre que o ex-presidente conseguiu catalisar uma onda antipetista e conservadora que perdeu força em 2022. Dentro desse novo contexto, há espaço para o sincericídio na corrida presidencial? Talvez não.

Presenciei uma dessas manifestações de Zema quando o entrevistei em 2021. Perguntei a ele como estava o relacionamento entre o governador mineiro e João Amoêdo, que tinha sido candidato à presidência por seu partido, o Novo. Naquela época, Amoêdo ainda estava na sigla e discutia com vários correligionários que desejavam apoiar o governo Bolsonaro (Zema entre eles).

“Está havendo, assim, uma obsessão [de Amoêdo]. E quando alguém fica obcecado, fica cego”, disse, para arrematar: “É [como] a mulher que separa e passa a ser a obsessão da vida dela destruir, atacar o ex-cônjuge. E parece que no caso do partido Novo a derrota até hoje não foi digerida”.

A entrevista foi feita ao vivo, para uma plateia de 100 empresários e transmitida em “live”. Ao ouvir a frase sobre as mulheres, vi a reação dos espectadores. Muitos olharam incrédulos para mim. Os comentários no YouTube começaram a pipocar. Não deu outra. No dia seguinte, vários jornais repercutiram a fala de Zema, que foi atacada nas redes sociais.

Outro exemplo, durante uma reunião de governadores: ele disse que no Nordeste havia mais gente recebendo auxílio social do que trabalhando. Mais uma polêmica desnecessária, especialmente para quem vai precisar do voto nordestino se quiser ganhar em 2026.

Diante de tudo isso, percebe-se que Zema dificilmente controlará a própria língua em um futuro próximo. Isso, por um lado, é ótimo, pois mostra a face de um político que não mente. Mas, de outro, inviabiliza apoios na campanha ou um eventual segundo turno. Talvez a saída para o governador mineiro seja o posto de vice. Quem sabe em uma chapa café-com-leite, juntamente com o governador paulista Tarcísio de Freitas?

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