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Vai sobrar algum ministro técnico ou o Centrão vai nomear todo mundo?

Brasília sempre é movida a boatos – e aqueles que envolvem o Centrão geralmente têm um fundo de verdade. O que circula hoje, no Congresso Nacional, é que o grupo ligado ao presidente da Câmara, Arthur Lira, voltou a se movimentar para substituir a ministra Nísia Trindade (Saúde) por um correligionário. Vamos deixar de lado, por um instante, a discussão se Nísia é ou não uma boa ministra e nos concentrar no fato de que ela tem grande experiência em pesquisa científica e foi presidente da Fundação Oswaldo Cruz de 2017 a 2022 – sem contar o fato de que foi a primeira mulher a comandar o ministério da Saúde.

Essa pasta, que administra um orçamento de R$ 150 bilhões e conta com verbas carimbadas, é o sonho de consumo do Centrão. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por outro lado, sempre quis ter o controle desse ministério e nunca aceitou colocá-lo na balança do toma-lá-dá-cá.

Não é a primeira vez que Nísia é colocada no epicentro da central de boatos brasilienses. Em julho do ano passado, seu nome foi mencionado várias vezes em uma possível reforma ministerial. Agora, porém, começa outra fase para pressionar o governo em troca de cargos, com Lira apresentando manifestações explícitas de desconforto em relação ao governo.

Lula resiste a novos movimentos para saciar a gula centrista. Ele sabe que terá de ceder em algum momento (não necessariamente com a pasta comandada por Nísia), mas não que fazê-lo agora. A lógica do presidente é simples e cristalina: ele sabe que o apetite do Centrão é voraz e quase infinito. Quanto mais demorar para ceder, menos terá de ceder.

A negociação de cargos ministeriais é algo normal dentro do jogo democrático. Mas o Centrão exagera ao abrir uma nova rodada de negociações a cada seis meses – se é que esse prazo não será encurtado no futuro.

No fundo, o Centrão sempre fez isso, desde que atendia pelo nome de Frente Liberal, nos tempos da ditadura militar, e era uma dissidência do PDS. A diferença daquele passado para a atualidade é que o número de partidos existentes no país deu ao grupo uma força enorme dentro do tabuleiro político.

No primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, eram 14 partidos com representação na Câmara. O Centrão da época tinha como nomes de liderança deputados como Luiz Carlos Santos, Roberto Cardoso Alves e Inocêncio Oliveira e ainda havia algum tipo de pudor em relação ao tamanho de seus pedidos ao governo (de todos, talvez Robertão tenha sido o mais afoito; foi imortalizado na cena política por uma frase lapidar, tirada do credo franciscano: “é dando que se recebe”).

Conforme o número de partidos começou a crescer (no ano passado, eram 29, mesmo com as cláusulas de barreira), a negociação com o Congresso ficou cada vez mais difícil. O Centrão, assim, entrou em campo para formar um bloco de negociação com o Executivo e centralizar pedidos.

Mas, ao mesmo tempo, os deputados perceberam que tinham de investir em líderes que lutassem por seus interesses, dentro e fora das paredes do Congresso. Foi nessa toada que fisiologistas como Severino Cavalcanti foram eleitos para a presidência da Câmara. E lideranças habituadas com o credo de Roberto Cardoso Alves, como Henrique Alves, Eduardo Cunha e o próprio Arthur Lira ascenderam. Hoje, existe uma sintonia total entre os interesses de Lira e do grupo centrista, que chegou a formar um bloco que até anteontem aglutinava 176 deputados.

Com a saída do PSB, anunciada nesta semana, o grupo diminuiu a 162 membros – ainda o maior da casa parlamentar e bem superior ao de apoio incondicional ao governo Lula, com 124 congressistas.

Essa concentração de poder, associada à prerrogativa do presidente da Câmara de ditar a pauta, torna o Executivo refém do Parlamento – e, em última análise, do Centrão. Durante os primeiros dezoito meses do governo de Jair Bolsonaro, tirando algumas exceções, como a Reforma da Previdência, nada aconteceu na Câmara. As coisas só passaram a fluir quando o presidente firmou um acordo e entregou cargos e verbas para o bloco. Com Lula, o mesmo está acontecendo, embora o grau de achaque tenha aumentado.

Isso é bom para o Brasil? Não. Vimos na gestão anterior que o apetite do Centrão não se satisfaz com facilidade e a mesma cantilena se repete desde 2023. Um país como o nosso não pode viver aos sobressaltos, em um clima de coação. A nação precisa de estadistas – não só no Executivo como no Legislativo também. É hora de os políticos deixarem de pensar apenas em seus interesses de curto prazo. Precisamos botar as necessidades do país em primeiro plano. Chega de pautas travadas e ameaças. Os empresários precisam de um ambiente político pacífico para trabalhar e gerar riquezas.

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