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Por que temos diferenças entre as pesquisas eleitorais?

Os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro costumam repetir, muitas vezes à exaustão, que as pesquisas eleitorais – nas quais há uma liderança folgada de Luiz Inácio Lula da Silva – são fajutas e divulgadas com o único propósito de ajudar o candidato do PT. Trata-se de um tema que, entre este mesmo grupo de eleitores, tem tanta importância quanto discutir se as urnas eletrônicas são confiáveis ou não.

Ontem, conversando com a cientista política Cila Schulman, do Instituto IDEIA Big Data, pude aprofundar um pouco mais a metodologia destes estudos e explorar um pouco as razões pelas quais há diferenças no resultado de uma sondagem e outra.

A primeira característica que pode interferir no resultado das enquetes é a forma pela qual o questionário é aplicado. Assim, uma pesquisa presencial pode apontar números diferentes de outra, feita pelo telefone. Além disso, há duas formas de se entrevistar eleitores pelo método telefônico: através de um programa (“disque um para votar em fulano, dois para sicrano” e por aí vai) ou de um entrevistador remoto. Dessa forma, dependendo do sistema utilizado, os resultados podem variar – sempre no que diz respeito às escolhas estimuladas.

Nas entrevistas presenciais, um cartão é apresentado ao eleitor, que então escolhe uma candidatura. No caso do telefone, os nomes podem ser listados pela voz de um robô ou através de uma pessoa – e isso também pode interferir na obtenção de dados.

As entrevistas presenciais podem padecer de um mal: a dificuldade de se encontrar eleitores da classe A, que não circulam tanto a pé pelas cidades. Essa seria a razão, portanto, que as pesquisas do Datafolha apresentam Lula alguns pontos acima dos resultados obtidos pelas enquetes de outros institutos.

Por outro lado, as sondagens telefônicas podem apresentar escassez de entrevistados de classe D e E. Com isso, os eleitores de classe mais alta podem aparecer em maior número e eventualmente inflar os números de Bolsonaro.

Ainda existem metodologias diferentes na ponderação demográfica dos eleitores, uma vez que o último censo foi realizado em 2010. De acordo com este censo, por exemplo, há 25 % de evangélicos no Brasil. Já a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), também do IBGE e realizada em 2015, aponta que 30 % dos brasileiros são cristãos que não seguem a Igreja Católica. Esses cinco pontos percentuais podem gerar diferenças na hora de analisar os dados gerados pelas pesquisas.

Para Cila, a pesquisa espontânea pode refletir melhor as intenções de voto, pois as respostas independem da posição que um determinado nome está no cartão apresentado aos entrevistados ou que é dito ao telefone. Não há margem para nenhum tipo de manipulação. O pesquisador pergunta apenas o nome do candidato no qual o eleitor vai votar.

Nos últimos meses, pudemos também assistir um fenômeno instigante – o pêndulo eleitoral. Uma pesquisa, por exemplo, mostra o crescimento de Lula. Isso provoca a reação dos anti-petistas, que resolvem aderir à candidatura de Bolsonaro, mudando de voto ou deixando a indecisão para trás. No mês seguinte, assim, os números do presidente melhoram. Isso, porém, provoca um efeito semelhante no outro lado do campo eleitoral – e estimula, entre aqueles que não suportam Bolsonaro, uma nova onda de eleitores de Lula.

Nas últimas enquetes, houve justamente o crescimento do ex-presidente. Daqui para frente, segundo essa tese, seria o momento de Bolsonaro voltar a crescer. Essas oscilações refletem que o voto útil deverá ser praticado ainda no primeiro turno, como reflexo da polarização.

E polarização deverá ficar entre nós por muito tempo. As projeções dos institutos mostram que as bancadas do PT e de seguidores do presidente Bolsonaro devem crescer no próximo pleito. Dessa forma, não importa quem seja o próximo inquilino do Palácio do Planalto – haverá uma oposição barulhenta pronta para criar obstáculos ao próximo governo desde o primeiro dia da nova legislatura. Assim, o jogo político, a partir de 2023, será bastante apimentado. Quem vai botar panos quentes e liderar o processo? Para variar, o Centrão, que continuará a mandar no Brasil. Não importa quem seja o presidente.

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