O que pode um influenciador digital contra um presidente? Depende. Se for Felipe Neto e o meio usado for um vídeo postado na página de Opinião do site do jornal The New York Times, o estrago pode ser considerável, ainda mais em um momento em que o governo brasileiro tenta amenizar a sua imagem negativa no exterior.
Com 38 milhões de seguidores e 10 bilhões de visualizações no Youtube, Felipe Neto, 32 anos, costuma discorrer sobre cultura pop e fazer piadas leves para adolescentes. Só que, de uns tempos para cá, ele se tornou um crítico que tem aumentado o tom contra o atual governo. Sob o título “Trump não é o pior presidente da pandemia”, no vídeo de 6 minutos e 25 segundos, publicado nesta quarta-feira (15), ele afirma que o público do NYT deve se informar com os brasileiros antes de apontar quem é o líder mais negativo no enfrentamento da pandemia de coronavírus em um país democrático. Brasil e Estados Unidos são os únicos países a registrarem mais de 1 milhão de infectados. O vídeo teve direção e produção do correspondente do NYT, Adam B. Ellick, vencedor do Prêmio Pullitzer.
O conteúdo não apresenta revelações. É o mesmo apanhado de trapalhadas, declarações desrespeitosas, comportamentos públicos irresponsáveis, disseminação de fake news, defesa da violência contra adversários e ausências de empatia e temperança necessárias ao cargo. O mérito de Neto está em usar uma plataforma respeitadíssima. Acima de seu vídeo consta um artigo de Ben Bernanke, ex-presidente do Federal Reserve, o banco central dos EUA, sobre a necessidade de ajuda federal aos 50 estados americanos. No topo do site, um artigo do historiador da Gripe Espanhola, John M. Barry, sobre os riscos de uma devastadora segunda onda de contágio de coronavírus. É improvável que um defensor de Bolsonaro consiga o mesmo espaço.
