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Tiros longe do alvo

Na vida, muitas vezes, miramos naquilo que vemos e acertamos naquilo que não enxergamos de início. Essa frase geralmente aponta para algo que obtivemos como bônus de uma ação. Mas, em outras ocasiões, pode representar um tiro que saiu pela culatra. Recentemente, vimos um caso desses: senadores da República se alinharam para pressionar e constranger a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, em uma audiência pública. O objetivo dessa ação era causar a queda da ministra ou minar sua atuação. Mas a titular da pasta acabou fortalecida pelo episódio.

A articulação do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, nos Estados Unidos, também tem tudo para seguir o mesmo caminho. Como se sabe, o parlamentar conseguiu que o governo americano anunciasse sanções contra estrangeiros que trabalhassem contra a liberdade de expressão de americanos ou de residentes nos EUA. A intenção é pressionar o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes – e, de quebra, encontrar uma saída para resolver a inelegibilidade do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Alguns dias após o anúncio de que o governo americano iria adotar medidas punitivas para quem se movimentasse contra a liberdade de expressão, nada indica que Moraes vá agir de maneira mais comedida. Pelo contrário. De quebra, fortaleceu-se o espírito de corpo no STF e talvez, hoje, o poder de Moraes esteja ainda mais consolidado.

Para alguns deputados conservadores, no entanto, a movimentação de Eduardo Bolsonaro acabou por robustecer um espírito de vingança que já estava presente junto a determinados magistrados – e isso pode prejudicar qualquer possibilidade de anistia para o ex-presidente ou de afrouxar a intenção de controle daquilo que se faz nas redes sociais.

Em artigo publicado ontem no jornal “O Estado de S. Paulo”, o economista Luís Eduardo de Assis lembra de uma frase do estrategista republicano Lee Atwater: “Percepção é realidade”. Em tempos digitais, essa máxima consegue explicar inúmeros fenômenos sociais que temos vivido.

Mas, em termos de economia e política, é preciso utilizar a percepção para entender o comportamento da sociedade e, a partir daí, tentar antecipar as consequências de nossos atos. Nos casos dos senadores contra Marina e de Eduardo Bolsonaro mirando em Moraes, há claramente uma intenção de atacar sem pensar nas consequências do ataque.

Nesse momento, a oposição precisa compreender quais são as forças que interagem no cenário político e se movimentar para atrair aqueles que estão insatisfeitos com o Planalto, mas não fazem barulho. Atualmente, porém, o que se vê é uma agressividade aleatória que pode prejudicar a própria causa da direita.

O já citado Lee Atwater, no final de sua vida, deu uma entrevista na qual fazia um balanço de sua vida política. “Sinto muito pela maneira como pensava nas outras pessoas”, disse. “Como um bom general, tratei todos que não estavam comigo como se fossem contra mim”.

Neste cenário delicado, o centro e a direita precisam ter mais sensibilidade para construir uma frente ampla contra o governo – imitando o discurso que Luiz Inácio Lula da Silva prometeu em 2022 (e não cumpriu). E atrair gente que está insatisfeita e ainda não se manifestou publicamente sobre isso. Que não está totalmente alinhado com a direita não é necessariamente inimigo dos conservadores.

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