O tapete azul do Senado já testemunhou dezenas momentos inusitados, mas a performance contra o aborto legal desta segunda-feira (17) se destacou como um dos mais grotescos, por isso escolhido por MONEY REPORT como sua Imagem da Semana.
Convidada pelo bolsonarista Eduardo Girão (Novo-CE), a contadora de histórias Nyedja Gennari deu voz a um feto em protesto contra a interrupção de gravidez. Durante cinco minutos intermináveis, o plenário se transformou em um palco de um teatro duvidoso e bizarro. “Não! Não acredito! Essa injeção! Essa agulha! Não! Quero continuar vivo!”, gritou Nyedja, que já foi assessora do senador bolsonarista Izalci Lucas (PL-DF).
Em um jornal local de Brasília, ela é descrita como uma profissional que “anima casamentos, aniversários, eventos e até conta histórias de mortos em velórios”. A sessão da segunda-feira durou sete horas, com transmissão contínua na TV Senado e sem espaço para contraditórios.
A dramatização antiaborto não foi o único momento constrangedor. O senador Girão exibiu novamente a réplica de um feto, antes de pedir um minuto de silêncio “em respeito aos bebês indefesos do aborto”.
O deputado bolsonarista Zacharias Calil (União-GO) utilizou uma seringa cenográfica para simular uma assistolia fetal, método recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) quando a gestação é interrompida após 20 semanas.
A senadora e pastora Damares Alves (Republicanos DF) aproveitou para criticar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Em maio, ele suspendeu uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) que impedia a prática da assistolia. “A liminar do Alexandre de Moraes está valendo e crianças estão morrendo”, disse Damares.
Na sua decisão, Moraes afirmou que o CFM ultrapassou sua competência regulamentar ao impor às vítimas de estupro uma restrição de direitos não prevista em lei, “capaz de criar embaraços concretos e significativamente preocupantes para a saúde das mulheres”.