O deputado federal André Janones é um fenômeno político que merece ser estudado. O seu nome chamou atenção da imprensa nacional quando as primeiras pesquisas espontâneas de intenção de voto começaram a pipocar no final de 2021. O deputado bateu ponto em quase todas. Um exemplo: Em 14 de dezembro do ano passado, o Ipec soltou uma enquete. Ele aparecia com 2%, o mesmo índice do então governador João Doria.
A primeira aparição pública de Janones foi durante a greve dos caminhoneiros de 2018. Ele postou seguidamente vídeos do movimento e passou a ser visto como uma espécie de porta-voz da categoria, sem nunca ter dirigido um caminhão na vida. Neste momento, foi criticado por ser um “petista infiltrado”, já que havia sido filiado ao Partido dos Trabalhadores entre 2003 e 2015.
Surfou a onda bolsonarista em 2018 e foi eleito ao Congresso com uma votação expressiva, com mais de 300 000 votos. Investiu pesado nas redes sociais e foi acumulando seguidores. Somente no Facebook são 8 milhões. A título de comparação, Jair Bolsonaro tem 15 milhões e Luiz Inácio Lula da Silva, 5,3 milhões.
Janones mostrou conhecer os ânimos das redes sociais como poucos políticos e foi cavando um espaço cada vez maior no universo digital. Esse ativo, por assim dizer, foi percebido e valorizado por Lula. O ex-presidente passou a cortejá-lo e conseguiu demovê-lo de disputar o Planalto. Além disso, colocou-o na campanha petista. Sua presença criou desconforto no comitê eleitoral logo que começou a dar os primeiros pitacos. Mas, aos poucos, foi ganhando espaço e hoje é quem dá as cartas na estratégia do PT nos ambientes da internet.
O deputado trouxe à propaganda do PT uma agressividade nunca vista antes. Essa agressividade, inclusive, veio acompanhada de algo inédito: o uso de fake news ou narrativas que distorciam propositadamente a realidade. Houve resistência por parte dos petistas. Mas Janones só ampliou seu espaço de lá para cá e hoje é importantíssimo para deixar o jogo digital equilibrado, usando as mesmas armas dos apoiadores de Bolsonaro.
O estilo “bateu, levou” pode ter desagradado uma ala dos simpatizantes petistas. Mas, por outro lado, conseguiu levantar a moral dos militantes mais afoitos e criou uma dinâmica de disseminação de posts muito parecida com a de seus oponentes. Por isso, poderá clamar para si uma boa parte do crédito caso Lula saia vitorioso no dia 30 de outubro.
O estilo Janones tem algumas características específicas. Citações bíblicas são salpicadas em determinados posts – e talvez tenham como alvo os evangélicos que apoiam Lula. Em uma mensagem de ontem, ele termina assim: “Haverá choro e ranger de dentes”. Trata-se de uma citação que se encontra ao longo da bíblia, em especial no evangelho de Matheus.
Esta mesma postagem traz duas outras características do deputado mineiro – a provocação e o suspense. Ele coloca para ilustrar o tuíte uma foto em que aparecem o presidente Jair Bolsonaro, o ministro Paulo Guedes e, aparentemente, o empresário Roberto Medina. Depois de outras postagens misteriosas, ele tuíta: “O final dessa história será apoteótico! Eu prometo”. Por fim, outro traço do parlamentar é a constante provocação. Ele alfineta, cutuca e desafia os oponentes o tempo todo. Carlos Bolsonaro e Carla Zambelli são os alvos favoritos.
Ganhando ou perdendo essa eleição, Lula já avisou que não disputará o pleito de 2026. Isso abrirá o caminho para novas lideranças de esquerda, como Guilherme Boulos e Manuela D’Ávila. O problema desses nomes é que são considerados muito radicais pelos eleitores de centro e, assim, teriam dificuldades para vencer a eleição.
Janones, por outro lado, pode costurar uma narrativa sem radicalismos para ser uma espécie de herdeiro político de Lula. Diante disso, porém, fica uma dúvida: como ele vai combinar um discurso ponderado na vida real com uma linguagem agressiva nas redes sociais?