Andrii Portnov, aliado de ex-presidente ucraniano pró-Rússia deposto, foi executado em área nobre da capital espanhola. Polícia investiga motivação política ou vingança pessoal
Andrii Portnov, ex-braço-direito do presidente ucraniano deposto Viktor Ianukovitch, foi morto a tiros na manhã desta quarta-feira (21), em Pozuelo de Alarcón, área nobre da região metropolitana de Madri. O assassinato do político, crítico do atual presidente Volodimir Zelenski e ligado a forças pró-Rússia, é o mais recente episódio de violência envolvendo cidadãos ucranianos e russos na Espanha.
A execução ocorreu por volta das 9h15 (4h15 de Brasília), em plena luz do dia, em um bairro conhecido por abrigar condomínios de luxo. A polícia espanhola ainda não confirmou se houve um ou mais atiradores, mas investiga o crime como possível atentado político ou vingança relacionada a dívidas.
Portnov, de 51 anos, era advogado e foi figura central no governo de Ianukovitch, presidente alinhado ao Kremlin deposto em 2014 durante a chamada Revolução da Praça Maidan — movimento que marcou a ruptura da Ucrânia com a influência russa e desencadeou a reação militar de Moscou, incluindo a anexação da Crimeia e o início da guerra civil no leste do país.
Histórico polêmico
Após a queda do regime pró-Rússia, Portnov deixou a Ucrânia e viveu na Rússia, Áustria e, por fim, na Espanha. Foi acusado de traição pelo governo ucraniano, em razão de seu suposto envolvimento na anexação da Crimeia, mas o processo acabou arquivado.
Embora sem cargo político formal nos últimos anos, Portnov era persona non grata para os sucessores de Ianukovitch, incluindo Zelenski e Petro Porochenko. Ele também integrava um círculo próximo a oligarcas e empresários com interesses russos.
O serviço secreto ucraniano (SBU), responsável por recentes operações letais contra alvos russos, como a morte de um general e de um líder paramilitar em Moscou neste ano, não comentou o caso. Ainda não há evidências de envolvimento direto da Ucrânia, mas a suspeita ronda o ambiente diplomático e de segurança.
Espanha no centro da tensão
Desde o início da guerra em 2022, a Espanha tornou-se palco de diversos episódios envolvendo figuras ligadas ao conflito no Leste Europeu. Segundo dados do governo espanhol, vivem no país cerca de 235 mil ucranianos e 95 mil russos — destes, 16 mil chegaram após a invasão da Ucrânia por Moscou.
Entre os episódios mais marcantes, destacam-se:
- O assassinato suspeito de um empresário russo do setor de gás, junto com sua mulher e filha, em abril de 2022.
- Envio de cartas-bombas a autoridades e embaixadas em Madri no final de 2022.
- O assassinato, em 2024, de um piloto russo que havia desertado para a Ucrânia e vivia exilado em Alicante.
A imprensa ucraniana, próxima ao governo de Zelenski, sugere que o assassinato de Portnov possa ter sido resultado de acertos de contas com credores, dada sua ligação com figuras de reputação controversa do antigo regime. A polícia espanhola, no entanto, ainda trabalha com a hipótese de crime político.