Disponível em farmácias brasileiras e receitado para casos de reumatismo, alergias graves, asma, doença pulmonar obstrutiva crônica, tuberculose e problemas de pele, o corticosteroide dexametasona traz alguma esperança para os infectados pelo novo coronavírus. O estudo Recovery, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, apontou que o medicamento reduziu em um terço (33,3%) a mortalidade em pacientes da covid-19 que estavam entubados. Entre os internados que recebiam oxigênio sem entubação, 20% apresentaram melhoras.
No boletim desta terça-feira (16), a Sociedade Brasileira de Infectologia classificou os resultados como um “dia histórico no tratamento da covid-19”. A pesquisa foi conduzida ao longo de 28 dias, com 2.104 pacientes no Reino Unido. Seus quadros clínicos foram comparados com 4.321 adoentados que receberam os tratamentos habituais pelo mesmo período. Entre estes, a mortalidade foi de 41% e 25%, respectivamente, para quem precisou de entubamento ou só recebeu ventilação por máscara. A pesquisa foi publicada nesta terça-feira (16), de forma preliminar, diante da urgência da pandemia.
Clovis Arns da Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, afirmou que este é o primeiro tratamento a mostrar impacto na redução da mortalidade. “Finalmente temos uma boa nova”, declarou em nota à imprensa. Outros medicamentos, como o antiviral remdesivir, estão em testes, mas nenhum apresentou resultados tão promissores.
A recomendação dos pesquisadores de Oxford é que os pacientes recebam uma dose diária única de 6 mg de dexametasona, por via oral ou endovenosa, ao longo de 10 dias. A remédio é um forte anti-inflamatório e imunossupressor, conhecido no Brasil pelo nome comercial Decadron e também disponível em versões genéricas. Uma caixa com 10 comprimidos de 4 mg pode custar menos de R$ 10 no balcão.
O resultado endossa, por enquanto, o pensamento predominante da comunidade científica, que aposta na reposição de medicamentos, enquanto uma vacina eficiente não surge. Reposição é o uso de substâncias empregadas contra outros males para tratar de uma nova doença. A prática permite pular etapas e logo entrar nos estudos com pacientes.
A pesquisa de Oxford ainda não foi replicada por outras instituições. O medicamento está sendo avaliado Coalização Covid Brasil, que agrega os hospitais Sírio Libanês, Albert Einstein e HCor e BricNet. O boletim da Sociedade Brasileira de Infectologia é claro: “não houve diferença nos pacientes que não necessitam de oxigênio”. Por ser muito forte e apresentar efeitos colaterais, a dexametasona não pode ser empregada de forma preventiva.