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Qual será o legado dessa eleição? Um país mais politizado

A polarização política tem um lado visível – e trágico. Encastelados em seus extremos, os eleitores mais radicais tornam a vida dos amigos, colegas e familiares um verdadeiro inferno. Agem como se fossem mudar o destino da humanidade em cada post nas redes sociais e grupos de mensagens e não admitem o contraditório. A divergência extrema é a mãe de quase todos os desentendimentos recentes, rompendo amizades e minando o tecido social que une as famílias. Além disso, produziu vítimas fatais, fruto de uma rivalidade que deveria ficar apenas no campo das ideias.

Mas há, por outro lado, um lado bom deste antagonismo desenfreado, que sobreviverá às eleições de domingo: a politização aumentou no país. As discussões intermináveis envolvendo Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva obrigou os oponentes a uma imersão maior de informações. Mesmo aqueles que desprezam Lula e Bolsonaro também se sintonizaram mais no cenário político – e esse embate político nas redes afetou até quem não gosta do tema.

A ascensão de Bolsonaro, quatro anos atrás, serviu para tirar a direita do armário. Durante muito tempo, na ressaca do governo militar, os partidários do conservadorismo ficavam em silêncio em conversas políticas. Muitos outros preferiam se declarar “apolíticos” – e eram tachados de “alienados” pela sociedade.

Esses alienados do passado, no entanto, viram em Bolsonaro uma voz de liderança e passaram a defender os preceitos do capitalismo – e também valores do conservadorismo, em especial a religião.

A discussão na época de PT e PSDB não era tão violenta como a que hoje existe entre lulistas e bolsonaristas. Ao lado disso, também não havia uma divisão tão equânime nas votações presidenciais. Fernando Henrique obteve cerca de 60 % em suas duas eleições. Depois, esse percentual se inverteu em favor do PT, com Lula e na primeira eleição de Dilma Rousseff. Desde que Bolsonaro surgiu, contudo, os votos contabilizados passaram a demonstrar que o eleitorado estava dividido e mais radicalizado.

Se antes a discussão política era meramente ideológica, hoje discutimos diariamente detalhes específicos dos assuntos que sacodem o dia a dia. Ontem, por exemplo, vi engenheiros discutindo características específicas da veiculação de mídia eleitoral, fruto da denúncia do ministro Fabio Faria sobre emissoras de rádio que teriam deixado de publicar 150 000 inserções da campanha de Bolsonaro. Esses profissionais da engenharia não têm curso publicitário, mas possuem uma capacidade quase que infinita de discutir sobre veiculações de campanha.

Neste aspecto, a internet e seus mecanismos de busca fazem uma diferença enorme. Em questão de segundos, qualquer um pode se sentir um expert no assunto debatido. Esse fenômeno, para alguns, gera um efeito parecido com aquele que experimentávamos quando não prestávamos atenção na matéria ensinada em classe e estudávamos na véspera da prova. Conseguíamos reter a informação por um tempo – mas depois ela se perdia. Outros, contudo, têm a capacidade de ler meia dúzia de linhas no Google e reter aqueles dados para sempre. O fato é que, ao buscar detalhes para melhorar sua argumentação, o debatedor online vai aos poucos aumentando sua cultura política – e, quem sabe, seu grau de engajamento.

Em várias escolas (nem todas, é claro), adolescentes discutem a eleição como se fossem adultos, defendendo seus pensamentos com maturidade. Muitas vezes, é verdade, esses jovens irão repetir com os colegas o que escutaram em casa. Mas a disposição de debater que hoje vemos entre os mais novos mostra que existe um caminho de politização que deve fazer muito bem ao país em um futuro próximo.

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