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Por que tem gente de direita votando em Lula?

Ontem, a consultoria Eurasia publicou o resumo de uma conferência telefônica com o ex-ministro Henrique Meirelles. Ele disse que há dois grupos de apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Um que aposta em uma gestão econômica parecida com a de Dilma Rousseff e outro que se preocupa com responsabilidade fiscal e “sustentabilidade da dívida”. Ele justifica sua adesão ao petista porque acredita que ele repetirá a linha adotada em seu primeiro mandato, combinando a manutenção do tripé econômico e geração de empregos.

Mas, do outro lado do front, há “economistas que acreditam que o Estado deve comandar a economia e estão constantemente falando com Lula”. Meirelles ainda disse que esse grupo acha que a “administração Dilma fracassou não por causa de uma política fiscal errada. Eles acham que ela fez as coisas corretamente, mas a economia esfriou porque os empresários e agricultores diminuíram o volume da produção para sabotar o governo federal”. Diante dessa batalha de visões econômicas, a decisão final sobre a abordagem da economia em um eventual governo Lula é imprevisível, até porque o candidato “quer manter tanto os economistas de esquerda e os que agradam o mercado”.

No mesmo dia, associados ao grupo liberal Livres soltou um manifesto, que conta com mais de 200 assinaturas, no qual defende a adesão à candidatura do PT (com o cuidado de mencionar no texto que a iniciativa, em negrito, não está “vinculada ao movimento ou à sua direção”).

Estes dois acontecimentos mostram pessoas ligadas à direita apoiando Lula (e há outros exemplos, como o ex-presidente do Partido Novo, João Amoêdo). Por que isso está acontecendo?

Pode-se elencar duas razões para explicar esse fenômeno.

A primeira é de cunho econômico. As recentes manobras do governo de Jair Bolsonaro na economia (deixando a preocupação com o déficit fiscal diminuir, os benefícios sociais turbinados e a interferência na composição de preços dos combustíveis) diminuíram drasticamente o caráter liberal que pautou o governo em seu início – embora a equipe de Paulo Guedes tenha mudado muito a legislação em favor dos empresários, como a lei 13.874, que versa sobre a liberdade econômica. A percepção de boa parte da população, no entanto, é de que o governo deu guinada populista em detrimento das propostas liberais que fizeram parte de seu plano original.

O outro ponto diz respeito à imagem do próprio presidente. Para alguns setores da direita, o problema desta gestão não é de CNPJ, mas sim de CPF. Há liberais que não toleram a figura de Jair Bolsonaro. Convenhamos: o presidente, durante quase todo o mandato, abusou do discurso politicamente incorreto e falou demais. Animado pela torcida bolsonarista raiz, que comunga com essa visão, o presidente acelerou na curva e foi construindo um sólido índice de rejeição.

O próprio comando geral de Bolsonaro percebeu que precisava fazer alguma coisa para neutralizar essa reprovação alta. A resposta veio há alguns dias: o presidente gravou várias peças publicitárias nas quais pede desculpas pelo que tenha falado no passado e ofendido os eleitores.

Nesta reta final das eleições, cada voto será disputado de forma feroz. Se quiser ganhar, Bolsonaro não pode perder votos da direita e do centro. Por isso, é de se esperar, até sexta-feira da semana que vem, ações marqueteiras que tentem estancar essa sangria. O governo aposta muitas fichas nessa estratégia, até porque é possível ver, em algumas pesquisas, Bolsonaro encostando em Lula – e em outras já está em condição de empate técnico.

Os próximos dez dias vão provocar os nervos de todos e serão cruciais para o resultado das urnas. Talvez essa seja a eleição tenha a menor margem de diferença entre os candidatos de todos os tempos. Até por isso, teremos de enfrentar um Terceiro Turno depois de revelada a vontade das urnas – e muito tempo de mimimi proporcionado pelos perdedores, que patrocinarão os ânimos polarizados por ainda muito tempo.

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