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Por que Bolsonaro está à frente de Lula nas eleições municipais?

Muito gente acredita na tese de que eleições municipais têm mais a ver com questões de zeladoria local e pouco se alinham ao cenário político nacional. Outros enxergam nesse pleito – especialmente nas grandes cidades – uma espécie de antecipação da corrida presidencial que ocorre dois anos após os resultados colhidos nos municípios brasileiros.

Ou seja, as eleições para prefeito podem ter ou não conexão com a polarização que existe no país entre direita e esquerda. Qualquer que seja a hipótese verdadeira, uma coisa é certa: o número de candidatos apoiados por Jair Bolsonaro na liderança das pesquisas eleitorais é maior que os patrocinados por Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo dados publicados ontem pela “Folha de S. Paulo”, nos 103 maiores municípios do país, 23 proponentes bolsonaristas lideram as enquetes; os lulistas em primeiro lugar, por sua vez, são 16 (os demais candidatos não são necessariamente identificados com uma corrente política em particular).

Por que Bolsonaro está à frente nessa disputa particular?

Em primeiro lugar, o ex-presidente não exerce cargo público e tem maior flexibilidade para entrar nas campanhas regionais. Já Lula, como presidente da República, não pode se dar ao luxo de se envolver de cabeça nesse processo em função de suas obrigações como chefe do Executivo.

Além disso, o governo do PT enfrenta um bombardeio de críticas na imprensa, que atingem temas diversos, como as queimadas espalhadas pelo país e um eventual descontrole de gastos públicos – em um momento em que a economia brasileira até mostra resultados positivos, como o crescimento do Produto Interno Bruto e uma das menores taxas de desemprego da história. Quando se faz um comparativo na imprensa e nas redes sociais, as más notícias superam as boas e isso pode influenciar nas intenções de voto.

Existe também um desgaste natural de Lula, que está completando seu segundo mandato. Esse fenômeno pode ser amplificado pelo fato de que o presidente abocanhou um voto de protesto contra Bolsonaro em 2022. Ou seja, uma parte significativa dos votos recebidos dois anos atrás era de quem não apoiava necessariamente o petista, mas tinha como principal motivação se livrar de Bolsonaro. Dessa forma, tal faixa do eleitorado não tem alinhamento ideológico em relação ao presidente Lula e se sente independente para votar em opositores ao petismo depois de dois anos.

Estamos também passando por um momento no qual há mudanças no perfil do eleitor e dos candidatos. Em algumas cidades, como São Paulo, há empate técnico triplo, o que pode indicar um enfraquecimento da polarização entre bolsonaristas e lulistas.

Já entre os candidatos, o nível de identificação com o ex-presidente e o presidente é algo bastante relativo. Tomemos dois exemplos para analisar. Um é o do prefeito carioca, Eduardo Paes, que conta com o suporte de Lula. A liderança incontestável de Paes, no entanto, pouco tem a ver com o presidente da República e é explicada pelo capital político pessoal do alcaide. Já em São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes é apoiado oficialmente por Jair Bolsonaro, mas não pode ser identificado como um bolsonarista da gema (apesar das recentes declarações que reforçaram um discurso conservador, típico do eleitor que apoia o ex-presidente).

De qualquer forma, ainda temos uma semana pela frente: é a reta final para saber se Bolsonaro emergirá deste pleito como vencedor ou não. As chances de a direita sair por cima, diante dos números atuais, são muito grandes. Um exemplo disso pode ser visto quando trocamos a pessoa física pela pessoa jurídica. O PL está à frente em 10 das maiores cidades do país. Já o PT se está na liderança em apenas três. Talvez esse seja mesmo o ano dos candidatos conservadores.

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