Em meio aos combates intensos no país africano, EUA e Reino Unido resgatam funcionários de suas embaixadas em Cartum. Brasileiros aguardam socorro
Os Estados Unidos e o Reino Unido anunciaram neste domingo (23) que conseguiram retirar do Sudão os funcionários de suas embaixadas na capital, Cartum, enquanto outros países também tentam ajudar seus diplomatas e cidadãos a fugirem do conflito que assola o país há nove dias consecutivos. Vários governos europeus anunciaram operações de evacuação em meio aos combates mortais entre generais rivais que lutam pelo controle do terceiro maior país da África.
Batalhas ferozes entre o exército sudanês e um grupo paramilitar – que incluíram combates com tanques na densamente povoada Cartum e ataques aéreos lançados por caças – já mataram mais de 400 pessoas e deixaram milhares de feridos. Os combates continuaram no domingo, com sons de disparos ecoando em Cartum e aeronaves militares sudanesas rugindo nos céus, disseram testemunhas.
Ao anunciar que os militares americanos conduziram uma operação para retirar os funcionários do governo dos EUA do país, o presidente Joe Biden condenou a violência, dizendo que ela é inconcebível e deve parar. Pouco mais de 100 soldados de operações especiais dos EUA participaram do resgate de menos de 100 pessoas, entre funcionários da embaixada e seus familiares. Três helicópteros Chinook voaram de Djibuti, pequeno país no Chifre da África, para Cartum, onde permaneceram em solo por menos de uma hora. Os resgatados foram levados para um local não revelado na Etiópia.
Estima-se que milhares de cidadãos americanos ainda permaneçam no Sudão, incluindo pessoas de dupla nacionalidade. Mais tarde, foi a vez de o Reino Unido anunciar o resgate de funcionários de sua embaixada. “Forças armadas britânicas completaram uma complexa e rápida evacuação de diplomatas britânicos e suas famílias do Sudão, em meio a uma escalada significante da violência e ameaças aos funcionários da embaixada”, afirmou o primeiro-ministro Rishi Sunak.
O Ministério das Relações Exteriores foi acionado ainda no domingo para providenciar a retirada de 20 brasileiros do Sudão. O requerimento foi protocolado pela deputada federal Rosana Valle (PL-SP). O jogador de futebol Paulo Sérgio, um dos brasileiros presos em meio à guerra, usou as redes sociais para alertar o governo federal sobre a ajuda que o grupo pede há dias ao Itamaraty, mas sem sucesso. “É um absurdo, é desumano o Brasil não dar atenção a esse pedido de socorro. São 20 brasileiros que estão em meio à guerra, correndo risco pessoal. Não é possível que ninguém das Relações Exteriores e do Itamaraty não esteja vendo urgência no assunto. É algo de excepcional urgência, tendo em vista a intensificação do conflito”, declarou a parlamentar.
Preso no território africano onde defende a camisa do Al-Merreikh, o atacante Paulo Sérgio usa suas redes sociais para pedir ajuda ao Brasil. Em umas das publicações, o atleta chama membros do Itamaraty de mentirosos e desorganizados. O brasileiro está em meio ao conflito com um grupo de 10 pessoas – destas, quatro atletas.
As Forças Armadas da Alemanha (Bundeswehr) deram início às operações de evacuação em Cartum neste domingo, anunciou o Ministério da Defesa do país. O Ministério do Exterior da França, por sua vez, afirmou que uma operação de evacuação rápida havia sido iniciada e que cidadãos europeus e de países parceiros aliados também seriam assistidos, sem fornecer mais detalhes. Já a Holanda está retirando seus cidadãos com ajuda da Jordânia, informou o ministro do Exterior holandês, Wopke Hoekstra.
A Itália enviou jatos militares para Djibuti em preparação para o resgate de 140 cidadãos no Sudão, muitos dos quais já se refugiaram na embaixada italiana. Por sua vez, o ministro do Exterior da Grécia, Nikos Dendias, anunciou o envio de aeronaves e forças especiais ao seu aliado Egito para o resgate de 120 cidadãos gregos e cipriotas em Cartum. Muitos deles buscaram abrigo nos últimos dias em uma catedral ortodoxa grega na capital sudanesa.
Já a Turquia iniciou as operações de resgate ao amanhecer do domingo, retirando por terra alguns de seus estimados 600 cidadãos de dois distritos de Cartum e da cidade de Wad Medani, ao sul da capital. Países asiáticos também iniciaram missões de resgate de seus cidadãos, com Coreia do Sul e Japão enviando aeronaves militares para países aliados próximos.