Sobraram poucos nomes relevantes filiados ao PDSB. Mesmo assim, os tucanos remanescentes conseguiram se desentender na reta final da eleição que irá escolher o novo presidente da sigla, que substituirá o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. De um lado, temos o ex-governador Marconi Perillo, ligado ao grupo do deputado Aécio Neves. De outro, está o ex-deputado e ex-senador José Aníbal.
O propósito dos dois oponentes é o mesmo: tentar reverter o lento e gradual processo de decadência do partido, que já foi um dos maiores do país. A agremiação, em 1999, era o partido do presidente da República, de sete governadores e tinha 99 deputados federais. Hoje, está na oposição e conta com três governadores e 18 deputados.
Com 76 anos, José Aníbal é uma espécie de “enfant terrible” da sigla. No meio da confusão que precedeu a eleição presidencial do ano passado, disse o seguinte sobre o ainda candidato João Doria, contra quem perdeu duas prévias, em 2016 e 2018: “É um horror esse cara, ele é o ovo da serpente dentro do PSDB”. Aníbal foi um dos nomes que mais pressionou pela desistência de Doria, que realmente se retirou da disputa apesar de ter sido escolhido em convenção dos tucanos. No final, os peessedebistas apoiaram a atual ministra Simone Tebet, cuja votação foi bem parecida com a projetada ao ex-governador nas pesquisas eleitorais.
Já Marconi Perillo é um político tarimbado e experiente, que prefere a costura de apoios aos confrontos – mas não foge da briga quando provocado. Afável, jeitoso e cativante, Marconi (curiosamente, o nome do colégio de ensino médio em Belo Horizonte onde Aníbal estudou e foi colega de Dilma Rousseff) é apoiado por Aécio, cuja imagem andou abalada nos últimos tempos.
A credibilidade do deputado mineiro desabou em abril de 2018, quando uma gravação feita pelo empresário Joesley Batista veio a público. Neste arquivo de áudio com pouco mais de trinta minutos, percebia-se claramente que o político apresentava uma postura nada republicana, pedindo dinheiro ao acionista da JBS.
Mais tarde, seus advogados de defesa diriam que ele havia pedido um empréstimo a Joesley Batista e não propina, como acusava a Procuradoria Geral da União. Ocorre que, na gravação, pode-se ouvir cinquenta palavras de baixo calão, 39 das quais proferidas por Aécio Há vários assuntos em pauta, incluindo a nomeação do novo presidente para a Vale do Rio Doce. A palavra “empréstimo”, porém, não é dita em nenhum momento.
Com paciência, resignação e muita articulação política, Aécio ficou no partido e se foi se fortalecendo como uma figura de bastidores – uma das principais razões pelas quais o ex-governador Doria ficou sem legenda para concorrer à presidência e acabou se desfiliando ao PSDB.
Ocorre que um partido só cresce por três razões.
A primeira é estar ligado a um campeão de votos. Ao olharmos para o quadro de políticos tucanos, porém, é altamente improvável que um deles consiga se destacar fortemente nas próximas eleições para tentar uma grande votação em 2026.
A segunda razão é ganhar as eleições presidenciais e surfar na onda positiva que a dinâmica da campanha gera. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o PL de Valdemar da Costa Neto no ano passado, turbinado pelos votos dados a Jair Bolsonaro.
Por fim, um partido de oposição forte pode atrair nomes com densidade eleitoral e ter boa performance nas urnas. Mas, até agora, o PSDB tem se mostrado uma oposição dócil, sem criar grandes desconfortos ao governo.
Dessa forma, a missão do novo presidente do partido será inglória. Qualquer um que vença a eleição terá de aparar as arestas internas antes de expandir o número de filiados e tentar atrair mais políticos para a agremiação.
Isso será possível?
Em tese, sim. Mas as atuais condições indicam que o PSDB deve permanecer como um coadjuvante político por mais tempo do que o desejado pela cúpula tucana. Entre os dois concorrentes, porém, quem teria mais condições para reerguer os tucanos? O ex-governador Marconi, por margem ampla. Em seu currículo, ele tem mais cacife e menos brigas. Isso, em política, faz uma diferença enorme.