Corre pelas redes sociais um vídeo feito no restaurante La Tambouille, no qual o autor provoca o ex-ministro Henrique Meirelles e o ex-governador João Doria. Como em muitas gravações lacradoras, o cineasta amador gosta de repetir as mesmas palavras. “E aí, Meirelles… que vergonha você apoiar o Lula, hein?”, diz o frequentador do restaurante. “Cada um tem a sua opinião”, responde o ex-presidente do Banco Central. A palavra “vergonha”, depois, é repetida outras três vezes.
Meirelles vai embora, mas Doria ainda fica no recinto, conversando com pessoas de uma outra mesa, acompanhado pelo ex-ministro Luiz Fernando Furlan, que não foi provocado por ninguém. O autor da filmagem, então, usa um tom de voz alto o suficiente para ser ouvido no celular que fazia a gravação, mas difícil de ser escutada na mesa que conversava com o ex-governador. Ninguém escuta as provocações nesse momento, até que Doria se dirige à saída.
O “stalker” político, então, pergunta se Doria vai votar em Lula. “Nem em Lula, nem em Bolsonaro”, responde o governador, que sai do local. Em seguida, recebe uma cutucada: “Traidor, Bolsodoria”.
Considero essas provocações lamentáveis – especialmente as do vídeo em questão, no qual o cineasta amador parece querer armar um barraco, mas não tem coragem para tanto. Conheço esse restaurante desde pequeno (embora funcionasse em outro endereço, próximo ao atual) e pude observar vários políticos em suas mesas ao longo de minha vida. Lembro particularmente de dois: Paulo Maluf e Orestes Quércia, personagens que passaram boa parte de suas carreiras políticas ouvindo acusações de corrupção.
Maluf e Quércia, no entanto, jamais foram vaiados ou pressionados pelos frequentadores do La Tambouille, que figura na lista dos melhores de São Paulo há décadas. Naquela época, obviamente, não havia celular. Mas a população já respirava os ares democráticos e poderiam se manifestar contra políticos sobre os quais pesavam substanciosas acusações.
Essas baixarias só fazem bem aos filmmakers de plantão, que enxergam uma personalidade que lhes desagradam, ligam a câmera e se esbaldam em um festival de manifestações vulgares. Incomodam a vida dos políticos, mas também infernizam quem está em um estabelecimento comercial, almoçando em paz. Aos “stalkers”: até entendo sua indignação. Mas, quer infernizar alguém para aparecer junto aos amigos? Faça isso na porta do restaurante e não incomode os outros.