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O discurso pendular do PT

Recentemente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez uma declaração na reunião que reuniu seus pares das 20 maiores economias mundiais para exaltar a necessidade de uma taxação global para os bilionários. A justificativa é a de sempre: 1 % da população não pode concentrar 43 % da renda do planeta. Depois da fala de Haddad, o economista francês Gabriel Zucman detalhou a proposta do ministro: uma tributação de 2 % sobre as grandes fortunas.

Esse discurso parte do princípio de que todo o capital dos bilionários esteja parado no banco e sendo gasto com propriedades e objetos de luxo, como diamantes, jatinhos particulares e carros esportivos (uma pequena parte, é verdade, acaba sendo destinada a esse propósito). Mas a maior parte desse dinheiro é consumido por investimentos produtivos, criando novos negócios. Este movimento produz riquezas, gera empregos e o pagamento de impostos. Além disso, boa parte das fortunas detectadas nos dias de hoje são calculadas a partir do valor das ações de empresas possuídas por esses bilionários. Não é exatamente uma caixa forte do Tio Patinhas; trata-se de um dinheiro virtual, que pode ou não se transformar em liquidez.

A discussão em torno do tema pode ser exaustiva. Mas parte de uma pergunta simples: esses 2% de taxação seriam aproveitados de uma forma melhor no caixa dos governos ou empregados em projetos que vão efetivamente gerar novas riquezas? Esse é o ponto de partida do debate.

Comenta-se em Brasília que a defesa da taxação dos mais ricos faz parte da estratégia do governo em agradar o eleitorado de esquerda, que compôs a maioria dos votos que elegeram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A estratégia, assim, seria criar factoides voltados a esses eleitores e mantê-los sintonizados na batalha diária que se vê nas redes sociais polarizadas.

Um outro passo nessa direção foi dado na semana passada, quando o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, defendeu a volta do imposto sindical, extinto no governo de Michel Temer. A tributação seria contrabandeada em um projeto de lei que regulamenta o trabalho aos domingos.

Marinho foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Saiu de lá em 2003, mas o sindicato continua vivo e pulsando em sua alma. E, como sindicalista, nunca se conformou com o fim de uma obrigatoriedade que irrigava os cofres das uniões trabalhistas. Para se ter uma ideia, em 2017 todos os sindicatos brasileiros arrecadaram R$ 2,23 bilhões. Em 2021, após a reforma de Temer, esse total caiu para R$ 21,4 milhões, apenas com contribuições espontâneas (como reza a nova lei).

A lógica dessas duas iniciativas é a mesma: tirar dinheiro do cidadão (bilionário ou trabalhador) e colocar na mão de um órgão estatal (governo) ou um ente de direito público (sindicato). O fato de haver poucos contribuintes espontâneos mostra que a sociedade não é exatamente fã da cultura sindical. Paradoxalmente, porém, o Brasil se transformou em um país dominado por sindicatos, já que o dinheiro antes de 2017 era farto nesse mundinho. Naquele ano, havia mais de 16 000 uniões no Brasil. Nos Estados Unidos, a título de comparação, eram menos de 200.

Ao acarinhar os militantes de esquerda com esse discurso, o PT acredita em uma mobilização constante. Ocorre que isso pode atrapalhar os planos do partido nas eleições municipais de 2024. Em São Paulo, os eleitores de Centro serão imprescindíveis para a vitória de Guilherme Boulos contra o atual prefeito Ricardo Nunes. Ou vice-versa.

Um dos efeitos da polarização neste pleito já pôde ser observado recentemente: o discurso de Lula, que chamou atenção para o conflito envolvendo Israel e Hamas. Essas declarações infelizes acabaram prejudicando a candidatura Boulos e afastando os centristas. Segundo pesquisas informais que circularam na semana passada (os chamados “trackings”), Ricardo Nunes ganhou eleitores à medida em que seu oponente perdeu.

Isso mostra que qualquer deslize, neste momento, deve ser fatal para as duas candidaturas que lideram a disputa na capital paulista. E, caso o PT continue a inflar o discurso esquerdista, as chances de Boulos podem diminuir significativamente quando a campanha de fato decolar.

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Comentários

Respostas de 2

  1. Tudo que os paulistanos querem é minguar a candidatura do Boulos ! Ele não cabe em São Paulo ! Não morro de amores pelo Ricardo Nunes, mas nada seria mais desastroso do que um prefeito que gravite na ideologia falida que está no Planalto, hoje !

  2. PT, Psol, a esquerda em geral, são especialistas em dar tiros nos próprios pés para agradar seu mundinho de militantes. O PT voltou ao poder federal porque Bolsonaro se mostrou imbatível em atirar nos seus dois pés (ou serão quatro?). Mas eu duvido que o eleitorado de centro vá cair nessas falácias esquerdóides de novo. Boulos esta fadado à lata de lixo da história. É só um sujeito caricato incensado por militantes infanto-juvenis.

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