Pesquisar
PATROCINADORES
PATROCINADORES

Nenhum governo incentiva incesto com literatura infantil

Notícia falsa foi reembalada, requentada e ganhou tons absurdos para atacar Lula, Ministério da Educação, universidades e interpretação de texto

Uma reportagem de 2017 da TV Gazeta, afiliada da Rede Globo no Espírito Santo, é compartilhada nas redes com informações distorcidas, como se fosse atual e sob a legenda “Desgoverno maldito”. À época, prefeituras capixabas barraram o livro infantil “Enquanto o Sono Não Vem” (Rocco, 2003), de José Mauro Brant, alegando que abordava temáticas inapropriadas para alunos do primeiro ao terceiro ano do ensino fundamental. O mesmo ocorreu em outros estados. O caso revisto foi escolhido a Fake da Semana.

Em vez do que afirma o post, o episódio não ocorreu no governo Lula, mas na gestão do medebista Michel Temer (2016-2019) – que nada tem com isso também. O conto alvo da polêmica narra a história de uma princesa que se recusa a casar com o próprio pai. Em represália, ela acaba aprisionada e tem um fim trágico. Pressionado, o então ministro da Educação, Mendonça Filho, decidiu recolher os 93 mil exemplares distribuídos.

Pouco antes, a editora Rocco rebateu as críticas afirmando que o livro passou por avaliação antes de ser enviado às escolas. Já o Ministério da Educação (MEC) informou que a obra havia sido incluída no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) em 2014, durante a gestão de Dilma Rousseff (PT) – que é inocente.


Quando o MEC mudou de opinião, explicou a razão para considerar a obra inadequada à faixa etária dos 7 aos 9 anos. “As crianças no ciclo de alfabetização, por serem leitores em formação e com vivências limitadas, ainda não adquiriram autonomia, maturidade e senso crítico para problematizar determinados temas com alta densidade, como é o caso da história em questão”, afirmou então a Secretaria de Educação Básica. Se houve um erro, a pasta não esclareceu como o deixou passar, tampouco pediu desculpas.

Mesmo assim, esse tipo de discussão é válida, desde que resguardada algum interpretação de texto, afinal, nenhum governo distribuiu nada que “incentiva filhas a casarem com o pai”. Responsável pela avaliação de alguns dos livros do PNLD e suas adequações ao ambiente escolar, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apresentou sua defesa: “o fato de uma obra tematizar incesto, como é o caso de ‘A Triste História de Eredegalda’, não significa que faça apologia do incesto. Ou seja, é importante considerar a maneira como o tema é abordado.”

Ou seja, é um assunto antigo, com uma abordagem mentirosa e que teve uma resolução em parte política para contentar pais e políticos pouco dados à literatura. Não foi a primeira vez – nem será a última. Nas eleições presidenciais de 2018, um vídeo também afirmou que a história era obra de Fernando Haddad no MEC, que naquela época era prefeito de São Paulo.

Esse repeteco às vezes muda de foco. Em 2009, escolas públicas de São Paulo e do Paraná recolheram exemplares de “Um Contrato com Deus”, aclamada novela gráfica de Will Eisner direcionada para adolescentes, por abordar violência doméstica, adultério e alcoolismo – e superação, esperança e redenção. Em 2017, um pastor evangélico exigiu a retirada de bonecas tradicionais africanas confeccionadas por alunos de um Centro Municipal de Ensino Infantil (Cmei) de Vitória (ES). As peças seriam “símbolo de macumba  por se originar de uma religião africana”.

Compartilhe

Comentários

Respostas de 2

  1. Isso é um absurdo! Essa gente deveria ser presa, pelo grande mal que vivem fazendo aos pais. O único intuito, é prejudicar é desfazer do Governo Lula. O tamanho da maldade e aignorância dos que espalham estas mentiras, merece um Processo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pesquisar

©2017-2020 Money Report. Todos os direitos reservados. Money Report preza a qualidade da informação e atesta a apuração de todo o conteúdo produzido por sua equipe.