Criar a própria narrativa e propagá-la nos meios de comunicação é uma tática antiga, que já se viu em diversos episódios ao longo da história. Recentemente, porém, esse tipo de estratégia não funciona mais. A sociedade não é facilmente manipulável e tem acesso a praticamente todas informações através de seus telefones celulares. Mesmo assim, todas as correntes políticas tentam constantemente criar uma realidade paralela para justificar determinados atos.
Nos últimos tempos, porém, isso tem ocorrido de maneira mais eloquente com os direitistas. Nas lamentáveis invasões de 8 de janeiro em Brasília, por exemplo, foi possível observar inúmeros internautas tentando associar o vandalismo a manifestantes infiltrados pela esquerda. No entanto, todos os personagens apontados como esquerdistas disfarçados foram identificados como pertencentes aos movimentos de extrema direita.
Na semana passada, a mesma estratégia foi utilizada nos Estados Unidos para tornar a invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, na qual 140 policiais foram feridos e 5 pessoas morreram, em um evento pacífico. As imagens foram repassadas pelo presidente da Câmara americana, o republicano Kevin McCarthy, ao âncora Tucker Carlson, que as reproduziu no canal Fox News. Nesses vídeos, pode-se observar pessoas andando tranquilamente pelo prédio que abriga o Congresso americano, como se fosse uma visita guiada.
Porém, inúmeras gravações feitas por câmeras instaladas nos uniformes dos agentes de polícia (e disponíveis na rede) mostram o contrário. Os invasores responderam a ação policial com violência e rechaçaram a tentativa das autoridades em recuperar o controle do prédio.
Já está na hora de a direita parar com isso. Chega de tentar inventar versões que não colam para encobrir eventuais erros. A invasão do Capitólio e os atos em Brasília foram atos violentos e engendrados por grupos direitistas. Ponto final.
Para os conservadores, essa seria uma boa hora de se separar dos extremistas – e parar de comprar versões sofríveis da realidade que não param em pé. No fundo, isso é o que ocorre quando o conservadorismo se une a populistas sem grande verniz ideológico.
Muitos populistas têm conexão com a direita, evidentemente. Mas são políticos que pensam mais em si do que no arcabouço ideológico que representam. Além disso, não pensam duas vezes em rifar suas convicções políticas e econômicas em nome de seus interesses pessoais. No caso específico de Jair Bolsonaro, o ex-presidente passou a campanha inteira falando mal do Centrão. Após um ano e pouco de mandato, contudo, fez um acordo com esse grupo e entregou a Casa Civil a Ciro Nogueira, um de seus líderes.
Do ponto de vista econômico, o ex-mandatário foi eleito em cima de uma plataforma liberal e nomeou Paulo Guedes para tomar conta das finanças nacionais. Mas, em seu último ano de mandato, buscando a reeleição, abriu a carteira e fez explodir os gastos públicos. O resultado disso foi a PEC Kamikaze, que permitiu um aumento fulminante no valor distribuído pelos programas sociais – tudo para evitar a ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva.
Tentar ganhar de Lula em seu próprio campo foi uma jogada arriscada. E não deu certo. Ou seja, Bolsonaro detonou o déficit público e deixou a conta para a próxima administração pagar.
É hora de a direita se afastar de quem tem uma agenda própria e é um para-raios de problemas. Ao mesmo tempo, é preciso deixar de propagar teorias da conspiração e achar que a imprensa tem culpa de tudo – e que está mancomunada sempre com a esquerda para manipular a realidade. Isso até pode acontecer. Mas a imprensa já esteve ao lado da direita, como se viu em 1989, quando alguns veículos claramente tomaram partido da candidatura de Fernando Collor de Mello.
O conservadorismo precisa empunhar bandeiras que sejam facilmente compreensíveis pelo eleitorado. Um exemplo simples: quando o Estado é menor, temos menos tributos; impostos menores significam mais investimentos e, consequentemente, mais empregos. Com isso, podemos criar um ambiente de negócios favorável e gerar mais riqueza para todos.
Ao associar essa proposta a um impulso ao empreendedorismo, a direita terá milhões de cabos eleitorais em favor do livre mercado e de regras de estímulo à criação de empresas. Para isso, é preciso criar uma classe média forte, baseada em princípios que regem a livre iniciativa. Somente assim é que será possível evitar as alianças de ocasião com o populismo e fazer a prosperidade ser o maior impulso aos candidatos que defendem o liberalismo econômico.