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Lula vai queimando rápido seu capital político

Pesquisa Quaest/Genial mostra que os índices de aprovação de Luiz Inácio Lula da Silva estão caindo com rapidez impressionante. Cerca de 53 % dos entrevistados disseram aprovar o presidente da República – mas esse índice era de 65 % em fevereiro. Trata-se de uma queda de doze pontos percentuais em menos de dois meses. Em relação ao governo em si, nova queda. A administração petista era aprovada por 40 % em fevereiro; hoje, são 36 % que a aprovam.

A desaprovação ao presidente e a seu governo cresceram em praticamente todos os indicadores de raça, sexo, religião, faixa etária e distribuição geográfica. Esses dados sinalizam que há uma insatisfação crescente em relação ao Planalto, seja na pessoa física ou na jurídica.

Há algumas explicações para essa queda de popularidade (ainda não muito grave em sua totalidade, mas que pode preocupar o governo pela velocidade com a qual está acontecendo), que ocorre logo depois da marca dos 100 primeiros dias de mandato.

A primeira é de ordem econômica. A economia está dando sinais explícitos de estagnação, combinada com uma inflação que ainda teima em dar as caras por aqui. Os juros altos (uma atribuição do Banco Central independente, que atua sem o aval do governo e do PT) esfriam a geração de riquezas e preocupam de empresários a trabalhadores.

O bate-cabeças no Planalto também deve ter contribuído para o quadro — em especial a decisão (depois descartada) de taxar as compras com valor de até US$ 50 em sites de importação como Shein, Shopee e AliExpress. Para deixar a discussão apimentada, o ministro Fernando Haddad ainda deu uma declaração desastrada, insinuando que a compra no exterior sem o pagamento de impostos seria comparável ao contrabando.

Mas talvez a principal fonte de insatisfação seja em relação às manifestações explícitas de esquerdismo por parte do presidente. Como se sabe, boa parte do eleitorado de Lula votou no PT não por apoiar o programa do partido, mas sim porque queria se livrar de Jair Bolsonaro. São eleitores de centro, que rejeitam o discurso de militante esquerdista adotado pelo presidente.

Neste aspecto, Lula precisa se lembrar que não é mais um líder sindical. Ele é o presidente de todos os brasileiros e precisa agir como tal. Se seu governo é aprovado apenas por 36 % dos brasileiros, isso é um sinal de alerta para acabar com o discurso de palanque universitário e abraçar a realidade.

Os brasileiros rejeitam radicalismos – e o presidente, com seu rancor revanchista, abusa da paciência do eleitor, mesmo estando apenas no começo de seu mandato.

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Poder Data, em janeiro deste ano, mostra que apenas 21 % dos brasileiros se consideram de esquerda. São 28 % que se definem como direitistas e 20% de centro (31 % não sabem se definir ideologicamente).

Isso significa que a maioria da população, somando direita e centro (sem contar os indecisos), não quer ouvir clichês esquerdistas como os proferidos pelo mandatário nos últimos dias.

Lula repete o erro cometido por Bolsonaro. O ex-presidente considerou sua vitória um cheque em branco e passou a agir como se o país inteiro concordasse com seu discurso politicamente incorreto e preconceituoso. Apostou errado ao achar que era a única opção para derrotar o petismo e foi radicalizando cada vez mais suas palavras – até ser derrotado. Lula parece achar que todos os seus votos vieram de militantes esquerdistas. Muitos até vieram. Mas uma parte expressiva destes sufrágios veio de quem queria apenas mandar Bolsonaro para casa. Estamos falando de eleitores que, em 2026, podem votar contra ele se o presidente persistir nessa agenda petista.

Ainda dá tempo de esfriar os ânimos para agradar o centro e a chamada Faria Lima. Mas a janela de oportunidade está ficando cada vez mais estreita. Empresários e banqueiros – até aqueles que viam com simpatia a chegada de Lula ao poder – já estão migrando para a oposição e farão pressão contra o governo através do Congresso.

Essa queda de aprovação surge exatamente quando o governo precisa negociar com deputados e senadores dois importantes projetos – o Arcabouço Fiscal e a Reforma Tributária. E, neste cenário, um governo com popularidade em queda é exatamente o tipo de presa que os integrantes do Centrão mais gostam. Com Lula gastando rapidamente seu capital político, só restará uma saída no curto prazo: abrir a carteira e oferecer ainda mais verbas e cargos para os donos dos votos parlamentares. Com a popularidade se esvaindo, Lula não poderá falar grosso com o presidente da Câmara, Artur Lira, e terá de se compor com os centristas.

Se não tivesse jogado para a torcida e moderado seu discurso, sua aprovação não teria mergulhado e seu cacife junto ao Congresso estaria maior. Esse é o preço a pagar para quem confunde a vontade de 60 milhões de eleitores com a de 220 milhões de brasileiros.

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