O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem um histórico de proferir declarações nada modestas para promover suas obras ou políticas de governo. Mas, nesta semana, exagerou bastante. Em cerimônia para entregar um ramal do projeto de transposição do Rio São Francisco, na Paraíba, saiu-se com a seguinte afirmação: “Deus deixou o sertão sem água porque sabia que eu ia ser presidente da República e ia trazer água pra cá”.
No mesmo discurso, o mandatário também usou um personagem histórico para exaltar suas virtudes como governante e defensor dos mais pobres: “Depois de Getúlio Vargas, somente eu trouxe inclusão social neste país”, disse.
Não foi a primeira vez que Lula passou dos limites ao exaltar seus feitos. Um bordão utilizado em seus primeiros mandatos ficou famoso: “Nunca antes na história deste país…”. Em novembro do ano passado, em entrevista veiculada pela CNN Brasil, ele defendeu suas políticas de crescimento social e declarou: “Se eu não tivesse sido presidente, o Brasil não teria avançado como avançou”.
Entende-se que um político deva vender o seu peixe e trabalhar a própria imagem, mas talvez o presidente esteja exagerando um pouco. Este comportamento será motivado pelas recentes pesquisas que mostram uma impopularidade em alta?
Lula parte do princípio de que sua desaprovação é fruto de um projeto equivocado de comunicação. Bem, a comunicação do governo é de fato ruim – mas não vem sendo isso que traz os índices de popularidade do presidente para baixo. O desgaste de imagem tem muito mais a ver com um falta de sintonia entre a mentalidade agora vigente no Brasil e os esquerdismos presentes nas falas de Lula. Se o Planalto quiser de fato mudar o jogo, deve entender melhor a cabeça do eleitorado e redesenhar sua estratégia política.
O problema é que as respostas de uma eventual pesquisa de opinião provavelmente vão apontar para um caminho que dificilmente seria trilhado por um governo petista. Percebe-se claramente que os trabalhadores de hoje não estão mais encantados com o discurso de auxílio social ou da ampliação de direitos. Eles preferem ascensão social, através de promoções ou do empreendedorismo.
Muitos estranham essas declarações egocêntricas de Lula, uma vez que o presidente é um mestre na arte de encantar seus interlocutores. Ele, de fato, sabe como poucos conduzir uma conversa com habilidade, levando o diálogo para a direção que deseja.
Mas isso não quer dizer que o presidente seja necessariamente uma pessoa modesta.
Em uma das vezes em que entrevistei Lula, entrei em seu gabinete no Palácio do Planalto às 7h30. Apesar do horário, o ambiente denunciava, com um odor característico, que o presidente havia fumado pelo menos duas cigarrilhas do tipo Café Crème.
Durante esta entrevista, que realizei com mais dois colegas, Lula fez questão de frisar que ele era o presidente da República (fato mais do que óbvio) em pelo menos dez respostas. Ou seja, o tempo todo estava lembrando seus entrevistadores de que ele era a pessoa mais importante da sala.
Por isso, esse surto imodesto não chega a ser surpresa para ninguém que tenha trocado mais de dez palavras com o nosso mandatário.