Na sessão de terça-feira (14), o Senado Federal foi palco de um episódio constrangedor. Durante uma audiência da Comissão de Infraestrutura, os senadores Marcos Rogério (PL-RO) e Plínio Valério (PSDB-AM) proferiram ataques misóginos contra a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Ambos a interromperam de maneira ríspida e em tom exaltado que nada tinha com a discussão em pauta.
Convidada para discutir políticas climáticas e regulamentação do mercado de carbono, Silva falava sobre desafios ambientais, como a exploração de petróleo na Foz do Amazonas, o novo projeto de licenciamento ambiental e a reabertura da BR-319 no trecho entre Manaus (AM) e Porto Velho (RO). O tucano pediu a palavra e partiu para o ataque questionando a “autoridade moral” da ministra para tratar de desenvolvimento sustentável. Logo Marina Silva, que pautou sua carreira em cima destas questões. Contra ou a favor de seus posicionamentos, ela nunca fez discursos agressivos para obter reconhecimento no Brasil e no exterior.
“A senhora vem aqui para pregar uma cartilha ideológica e não para debater com o Senado”, disse Valério, apontando o dedo e elevando a voz. Ele também afirmou: “Estou falando com a ministra e não com a mulher, porque a mulher merece respeito, a ministra, não”.
Após retrucar que o convite lhe foi feito por ocupar o cargo de ministra e não por ser mulher, Marina Silva exigiu desculpas de Valério, que manteve sua postura. Daí foi a vez do senador Marcos Rogério (PL-RO), presidente da comissão, que falou para a ministra “se pôr no seu lugar” (imagem). Houve confusão e gritaria. Antes de sair da sala, ela devolveu: “Sou uma mulher de luta e de paz. Mas, nunca vou abrir mão da luta. Não é pelo fato de eu ser mulher que vou deixar as pessoas atribuírem a mim coisas que [eu] não disse”.
O episódio foi registrado em vídeo e circulou amplamente nas redes sociais, causando indignação entre parlamentares, ambientalistas, líderes de movimentos civis e gente comum. A imagem da ministra mantendo a calma, enquanto o senador a atacava, foi escolhida por MONEY REPORT como a Imagem da Semana. O registro mostra o desgaste do diálogo institucional entre governo e oposição, em um embate envenenado pela violência de gênero nas esferas de poder.
Por que o conhecimento de uma mulher é colocado em dúvida com tanta arrogância?
— Elika Takimoto (@elikatakimoto) May 27, 2025
Isso não é "debate". Isso é tentativa de silenciamento.
Toda solidariedade à ministra Marina Silva. pic.twitter.com/YHZexfGblf
Ativista histórica da causa ambiental no Brasil, a ministra emendou com serenidade: “Tenho 40 anos de vida pública e sempre estive disposta a dialogar, mesmo com quem pensa diferente. Mas não aceitarei desrespeito.”
A resposta foi aplaudida. Parlamentares de diferentes bancadas também saíram em defesa de Marina. A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) classificou a postura de Marcos Rogério como “inaceitável”, “misógina” e “incompatível com o decoro parlamentar”.
Nos bastidores, aliados do governo viram o episódio como parte de uma estratégia do PL para desgastar a imagem da ministra, uma das mais respeitadas figuras do governo Lula na pauta ambiental. O Planalto, por sua vez, emitiu nota de apoio à ministra, reforçando “a importância de um debate civilizado e respeitoso no Congresso Nacional”.