Já se fala abertamente no Palácio do Planalto a possibilidade de o vice-presidente Geraldo Alckmin disputar o governo de São Paulo em 2026. Essa discussão, inclusive, inclui a ex-prefeita Marta Suplicy, que já conversou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a possibilidade de compor com o ex-governador uma chapa para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes no próximo pleito.
Alckmin parece ser a melhor opção de Lula ao governo do estado, embora ele seja filiado ao PSB e não ao PT. Mas isso não quer dizer que o vice tenha chances concretas de vitória. Governador paulista por quatro mandatos, em tese ele seria um nome de peso para entrar na disputa. Mas há um problema para que ele possa vencer – e esse obstáculo é o próprio Lula.
Em São Paulo, o voto do interior é crucial para a eleição majoritária. Temos 9 milhões de eleitores na capital e cerca de 26 milhões no interior. Essa é uma das razões pelas quais o PT nunca conseguiu ocupar o Bandeirantes, já que o eleitorado interiorano é mais conservador e rejeita as candidaturas de esquerda.
Enquanto Alckmin foi a opção contrária aos petistas – e também pelo fato de ser originário de Pindamonhangaba –, ele nadou de braçadas neste grupo de 26 milhões de eleitores. Apesar de o PSDB, seu antigo partido, nunca ter sido uma sigla de direita, os tucanos eram vistos como uma opção ao petismo e capitalizaram politicamente esse antagonismo.
Ocorre que o ex-governador se estranhou com seu ninho original, especialmente quando João Doria teve uma ascensão fulminante dentro do partido, sendo eleito prefeito e, depois, governador. Ao mesmo tempo, Alckmin teve um desempenho pífio das eleições presidenciais de 2018, se sentindo abandonado pelos seus correligionários – e passou a antagonizar (na maior parte, silenciosamente) com Doria.
Esses desentendimentos levaram Alckmin a abandonar o barco tucano e se filiar ao PSB. Logo depois, o PT oficializaria seu nome como vice de Lula (e hoje, como todos sabem, ele é o vice-presidente da República). O ex-governador sempre foi extremamente cuidadoso em sua carreira política e evitou movimentos bruscos. Mesmo assim, obteve sucesso na única vez que foi ousado.
Ocorre que seus triunfos regionais sempre foram obtidos na base do antipetismo. E foi essa a estratégia que utilizou em 2006, quando foi ao segundo turno contra Lula e fez uma série de críticas ao atual presidente. Essa cartilha foi utilizada novamente em 2018, com um discurso que explorava o envolvimento dos petistas na Operação Lava Jato e especificamente a prisão de Lula.
Quando ele e o presidente colocaram uma pedra no passado e se uniram, Alckmin sofreu um desgaste de imagem junto ao seu eleitorado tradicional no interior paulista. Seus apoiadores tradicionais se sentiram traídos – e o desempenho da chapa Lula-Alckmin em 2022 não foi exatamente uma Brastemp fora da capital paulista. Jair Bolsonaro venceu em 547 das 645 cidades interioranas, com mais de 55% dos votos. Por isso, não se deve esperar favoritismo de Alckmin, pois boa parte do interior paulista se sentiu atraiçoado com sua adesão a Lula.
Ainda é preciso saber qual será seu adversário em 2026 , se é que o vice vai mesmo ser candidato a governador. O atual titular, Tarcísio de Freitas, diz que vai disputar a reeleição. O problema é que a candidatura de Jair Bolsonaro, especialmente depois da Operação Contragolpe da Polícia Federal, tem grandes chances de não se concretizar. Neste caso, Tarcísio seria uma opção presidencial da coligação entre centro e direita.
Se Tarcísio concorrer à reeleição, porém, as chances de Alckmin diminuirão consideravelmente. Mas podem aumentar caso o governador passe a mirar o Palácio do Planalto. Neste caso, ainda é cedo para saber quem será seu adversário em 2026. Mas uma coisa é certa: boa parte do eleitorado no interior paulista está perdido para sempre – e isso pode inviabilizar qualquer chance de vitória por parte do ex-tucano.