A Imagem da Semana de MONEY REPORT simboliza algo mais do que um momento protocolar entre dois chefes de estado. Nela, o presidente despótico da Rússia, Vladimir Putin, aparece puxando o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, em um gesto caloroso. Uma situação amistosa até demais para um palco sisudo como o Kremlin, onde se desenrolou o encontro entre os dois líderes nesta sexta-feira (9). A cordialidade revela as diferentes apostas de ambos os governantes em uma diplomacia centrada nas aparentes relações pessoais — algo que fizeram questão de enfatizar. Só faltou o tradicional beijo fraternal socialista, que pode ser na boca quando entre dois líderes excepcionalmente próximos. O gesto é derivado do beijo da paz da tradição cristã ortodoxa. Não foi o caso.
Lula e Janja recebidos pelo Putin no Kremlin. pic.twitter.com/IUfG7k7O8A
— GugaNoblat (@GugaNoblat) May 8, 2025
No jantar na sede do poder russo, cercados por assessores e flashes, os presidentes conversaram por longos minutos. O cenário, porém, não poderia ser mais controverso: enquanto os líderes ocidentais se ausentaram das comemorações dos 80 anos da vitória soviética sobre os nazistas na Segunda Guerra, Lula compareceu com protagonismo, ao lado de figurões distantes de eleições diretas e da liberdade de expressão: Xi Jinping, da China; Nicolás Maduro, da Venezuela, e Miguel Díaz-Canel, e Cuba.
🎖🗣 Putin e Lula conversam durante jantar em comemoração aos 80 anos da vitória
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O presidente russo, Vladimir Putin, está oferecendo um jantar a autoridades e convidados internacionais no Grande Palácio do Kremlin, em Moscou, durante a comemoração dos 80 anos da vitória. pic.twitter.com/jh0drE8Wrj
A visita, revestida de simbolismo histórico e pragmatismo geopolítico, gerou reações polarizadas. Para críticos, a presença de Lula ao lado de Putin em um momento tão sensível internacionalmente beira o equívoco diplomático. Para defensores, representa uma reafirmação da política externa independente do Brasil, que busca afirmar seu protagonismo nos Brics e no cenário multipolar. Por enquanto, o Brasil é a única democracia pronta a dialogar a Rússia no momento em que os Estados Unidos ameaçam cortar a ajuda militar e pressiona por um acordo de paz nada vantajoso para a Ucrânia invadida.
Além da retórica, o encontro deste aceno, Lula sinalizou o interesse em parcerias para pequenas usinas nucleares, mencionou o comércio bilateral de US$ 12 bilhões — amplamente favorável à Rússia — e levou à mesa o CEO da Minerva Foods, numa tentativa de ampliar a exportação de carne ao mercado russo.
Com destino à China neste sábado (10), onde encontrará Xi Jinping, Lula seguirá com uma agenda focada em reforçar alianças fora do eixo atlântico tradicional.