A decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que anulou, nesta segunda-feira (8), todas as condenações contra o ex-presidente Lula relacionadas às investigações da Operação Lava-Jato em Curitiba, exige explicações de juristas por seus meandros jurídicos. Fachin considerou a Justiça Federal do Paraná incompetente para analisar os casos do tríplex do Guarujá, do sítio de Atibaia e do Instituto Lula. Agora, o petista voltaria a ser elegível, de acordo com a Lei da Ficha Limpa, mas é preciso deixar claro que ele não foi absolvido. O caso volta ao início e pode, dependendo do caminho que tomar, ser julgado novamente com maior ou menor rapidez.
Para o professor da FGV Direito, Rubens Glezer, a decisão pode ir para a 2ª Turma, a qual Fachin pertence, mas o cenário está aberto. “Pode ocorrer de tudo. O Fux (Luiz Fux, presidente do STF) cassar a decisão e a turma ter que decidir tudo amanhã”, diz. Glezer observa: “Por enquanto, se essa decisão ficar de pé, Lula fica fora da Ficha Limpa. Com isso, ganha todos os direitos políticos novamente”.
Constitucionalista e professor do Direito da Universidade de São Paulo (USP), Elival da Silva Ramos lembra que “os fatos persistem”. Ou seja, se mantido pelo plenário do STF, o habeas corpus aceito por Fachin anula o julgamento, mas não o processo todo, que sairia de Curitiba e começaria de novo na Justiça Federal do Distrito Federal. “Há meandros processuais a serem considerados”, diz. A questão central não é, neste momento, se o ex-presidente é inocente ou culpado. “Lula pode ser condenado de novo”, pondera Ramos. Só que até lá, se mantida a decisão, ele estará elegível e, dificilmente o caso chegaria até a segunda instância antes das eleições de 2022. “É difícil prever. De certo, só que Fachin analisou a competência processual. O Supremo pode mudar tudo”, lembra.
Na análise de Alberto Rollo, professor do Mackenzie, há uma contradição no decisão que pode ser fundamental no andamento do novo julgamento. Fachin afirmou que o processo foi anulado, mas que as perícias e os depoimentos podem ser aproveitados. “Ou anula tudo ou não anula. Essa incongruência precisa ser examinada pela turma ou pelo Plenário”, diz. Sobre a arena política, Rollo comenta que se tudo for derrubado, dificilmente o caso estará julgado antes das eleições de 2022. “Não daria tempo”. Mas se o material for aproveitado, talvez o juiz designado corrobore a decisão.
De certo, apenas que a Procuradoria Geral da República (PGR) vai recorrer da decisão.
Confira os comentários e recados políticos:
Minha maior dúvida é se a decisão monocrática foi para absolver Lula ou Moro. Lula pode até merecer. Moro, jamais!
— Arthur Lira (@ArthurLira_) March 8, 2021
No Brasil, o futuro é duvidoso e o passado é incerto. Na democracia, a Corte Suprema tem a última palavra na Justiça. É respeitar a decisão do STF e refletir com equilíbrio sobre o momento e o que vem pela frente. Mas uma coisa é fato: figurinha repetida não completa álbum.
— Luciano Huck (@LucianoHuck) March 8, 2021
Com todo respeito ao Ministro Fachin, em quase 30 anos de estudo do Direito, eu nunca vi, em sede de Embargos de Declaração, uma decisão com tanto impacto no mérito! Não houve a anulação apenas de uma ação penal, mas de quatro!
— Janaina Paschoal (@JanainaDoBrasil) March 8, 2021
O assaltante do país @LulaOficial está ELEGÍVEL. Fachin anulou as condenações. O argumento: Moro não poderia ter julgado o meliante em Ctba. Uma rebimboca da parafuseta formal. @jairbolsonaro COMEMORA. Ele conseguiu ter Lula como adversário em 2022 e assim ter alguma chance. SOS
— Joice Hasselmann (@joicehasselmann) March 8, 2021