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Eduardo Paes: um Jânio baixou em mim

Na semana passada, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, baixou um decreto que muda as regras de uso das praias cariocas, Algumas medidas fazem todo o sentido, como proibição de cercadinhos para barracas, uso de caixas de som na areia ou circulação de ciclomotores e patinetes motorizados nos calçadões. Mas outras parecem totalmente aleatórias e pitorescas. A partir do dia 1º de junho, por exemplo, as barracas de praia só poderão ser conhecidas por um número, sem nomes; não será possível utilizar bandeiras para caracterizar esses pontos de venda; e, ainda, música ao vivo será banida dos quiosques que ficam no calçadão.

Paes defendeu as medidas com uma agressividade rara, uma vez que sempre foi conhecido por ser um prefeito boa-praça e bonachão. “Me perdoem pela dureza, mas eu fiz questão de vir aqui para dizer: ‘esse decreto é meu’. Tem um monte de ajuste que eu acho que tem que fazer, porque ele está frouxo. Não trata de um monte de coisa, mas essa missão é minha, eu vou comprar isso pessoalmente. Não tenho medo de perder voto, eu vou disputar uma eleição em breve, não vou dizer qual, mas vou disputar. Prefiro perder na boa. Já ganhei, já perdi, faz parte da vida, mas prefiro perder do que ser um prefeito incompetente, ter uma cidade esculhambada”, disse ele.

O rompante de Paes, que revoltou comerciantes e banhistas, lembra as decisões folclóricas do então presidente Jânio Quadros no início dos anos 1960, quando ele proibiu o uso de biquínis nas praias, colocou na ilegalidade as rinhas de galo e mudou os trajes masculinos no serviço público (trocando o terno pelos conjuntos safári).

Mas há um lado bom no meio desta confusão.

Geralmente, políticos evitam decisões polêmicas que trazem desconforto ao eleitorado. Neste caso específico, mexe diretamente com o lazer dos cariocas e cria um ruído que pode prejudicá-lo em 2026, quando ele pretende concorrer ao governo do estado.

Paes resolveu fazer o que achava ser certo e ignorou as críticas. Este comportamento deveria ser seguido pela classe política, que resiste em tomar medidas amargas porém necessárias para resolver os grandes problemas brasileiros. É uma pena, no entanto, que toda essa energia seja gasta por conta de uma regras que, entre outras coisas, versa sobre a nomenclatura das barracas de praia.

Neste sentido, é preciso ressaltar o que fez um figura controversa e condenada por corrupção em 2017 – o ex-prefeito Paulo Maluf. Chamado de “filhote da ditadura” por Leonel Brizola, Maluf proibiu, durante seu mandato, o fumo em locais públicos e instituiu o uso obrigatório dos cintos de segurança em automóveis. Foi amplamente criticado pelas duas medidas, mas não arredou o pé. Mais tarde, essas decisões seriam adotadas pelo governo federal e elogiadas pela maioria esmagadora da população brasileira.

Embora essas decisões tenham sido acertadas, o ex-prefeito também foi conhecido pelo lado exótico. Quando governador, quis mudar a capital paulista para o interior e criou uma empresa estadual de prospecção de petróleo, a Paulipetro. Além disso, em seu primeiro mandato à frente da prefeitura, criou uma das maiores monstruosidades urbanas que se tem notícia no país, o Minhocão, um viaduto que degradou a região ao seu redor – em especial, a rua Amaral Gurgel.

Seria muito bom para o país que os políticos tivessem coragem de adotar medidas impopulares e necessárias – mas chega de ideias burlescas, como as que vimos acima.

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