Para os maldosos, convocaram o gerente do buffet para tocar o ministério das Relações Exteriores. Escolhido para ser o novo chanceler, o chefe do cerimonial da Presidência da República, diplomata Carlos Alberto Franco França, pode estar longe de ser uma solução qualificada com todas as credenciais, mas ofereceria o tato e a prudência que o Itamaraty perdeu quando Ernesto Araújo assumiu.
Educado e cortês sem ser afetado, Carlos França apresenta a vantagem de possuir um perfil apolítico. Algo que para diplomatas ouvidos por MONEY REPORT pode vir a se parecer com a linha adotada por Luiz Alberto Figueiredo, um dos três titulares da pasta no governo Dilma Rousseff.
França é visto com desconfiança pelos colegas mais experientes, já que seu trabalho internacional mais expressivo foi como ministro-conselheiro na embaixada do Brasil em La Paz, Bolívia. Seu trunfo é contar com a simpatia da família Bolsonaro desde que cuidou da posse presidencial. Também tem o apreço de políticos do Centrão, dada a habilidade com que lidou como as demandas que lhe chegavam no Palácio.
Considerado de saída como uma espécie de chanceler tampão, sua ascensão ao comando do Itamaraty é vista com alívio, já que seu antecessor, Ernesto Araújo, era temido. Ele escanteou deliberadamente profissionais experientes apenas por possuírem posturas consideradas globalistas – seja lá o que isso quer dizer. “Pelo menos esse nunca perseguiu ninguém”, afirmou sobre França um cônsul com passagens pela Europa e América Latina.
É possível que o novo chanceler não fique a tiracolo do presidente como seu antecessor. Se for para fazer diplomacia internacional de verdade, sua missão será crítica: reaproximar Brasil e China em um momento em que o país precisa desesperadamente de vacinas e da ampliação de parcerias comerciais para superar a recessão causada pela pandemia.
Pode parecer um trabalho grande demais para um chefe de cerimonial da Presidência, mas se pelo menos ele tentar já terá feito mais que seu antecessor. Sem contar que, com o isolamento internacional do Brasil, é provável que o diplomata de carreira com mais contatos recentes junto aos diplomatas estrangeiros em Brasília seja justamente ele, que pode tirar proveito da boa figura que fez diante dos embaixadores que foram apresentaram suas credenciais para Bolsonaro.