Cada um de nós tem um método particular de escolher seus candidatos. Mas, de maneira geral, todos os eleitores levam em consideração as ideias defendidas pelos proponentes, seus partidos, suas origens e os valores pessoais de cada um – além de prestar atenção na oratória, no poder de síntese e na capacidade de criticar os adversários. Nos debates, como o que foi realizado ontem na TV Globo, percebe-se também a linguagem corporal, as modulações de voz e a interação com o adversário.
Muitas vezes, um alinhamento ideológico é tudo que se precisa para apontar um nome durante a campanha eleitoral. Ou uma rejeição gigantesca a um determinado candidato, que leva o eleitor ao lado do antagonista com maior chance de vitória (algo que ocorreu com frequência no pleito de 2022).
Mas o livro “Corruptíveis”, de Brian Klaas, que versa sobre várias facetas do Poder, na esfera pública e na privada, mostra que talvez a sociedade tenha outro tipo de comportamento na hora de eleger um líder político.
Klaas descreve um estudo feito em 2008 na Suíça para testar aos caminhos que levam a uma escolha eleitoral. Para esse experimento, foram recrutadas 681 crianças entre 5 e 13 anos de idade. Tudo que os jovens precisavam fazer era jogar um programa de computador, no qual eles tinham de tomar decisões sobre um navio que, no jogo, iria sair do porto. A última decisão era sobre quem deveria ser o comandante da embarcação. Eram apresentadas, então, duas fotografias às crianças, que deveriam escolher um líder entre as duas opções.
Ocorre que as fotografias eram de candidatos às eleições parlamentares na França. Como se sabe, a câmara baixa francesa é decidida majoritariamente através do voto distrital (são 577 distritos). Há vários candidatos regionais e, para vencer, um deles precisa da maioria absoluta dos votos e esse montante precisa ser igual ou superior que 25 % do total de eleitores aptos. Invariavelmente, há segundo turno e a decisão fica entre dois nomes.
Pois bem. As fotos colocadas diante das crianças eram justamente dos finalistas dessas eleições, sempre apresentado o vencedor e o segundo colocado.
Como votaram esses meninos e meninas? Em 71 % dos casos, eles e elas escolheram justamente o político que havia vencido a eleição. Diante disso, os pesquisadores resolveram repetir o teste em adultos, novamente entre suíços. O resultado foi rigorosamente igual.
Sabe-se que crianças e adultos têm processos cognitivos diferentes – mas isso talvez não se aplique quando o tema é escolher quem deve estar na liderança. Segundo o autor, esse estudo ‘deu um novo significado à expressão ‘julgando alguém pelas aparências’”.
O mesmo livro também discorre sobre a altura dos políticos, um assunto que foi discutido no quartel general da campanha de Jair Bolsonaro (os assessores do presidente recomendaram que ele ficasse ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para explorar diferença de altura entre os dois).
Klaas lembra que os presidentes nos Estados Unidos, de maneira geral, são mais altos que a média dos americanos. Estudiosos das eleições norte-americanas chegaram à conclusão de que candidatos mais altos venceram seus rivais mais baixos – e que aqueles com maior altura igualmente têm maior chance de reeleição. Os pesquisadores ouvidos pelo autor, então, fizeram testes fotográficos, nos quais voluntários tinham de escolher quem tinha maior capacidade de liderança entre várias pessoas. O indivíduo mais alto, invariavelmente, vencia as enquetes.
Segundo Klaas, essa percepção nos acompanha desde a Idade da Pedra. Nesta era, o cérebro humano se programou para ver na altura algo importantíssimo para que o indivíduo fosse um caçador ou um guerreiro, algo importantíssimo para se conquistar a liderança das tribos.
Isso funciona aqui no Brasil, como querem acreditar os assessores do presidente Jair Bolsonaro?
Lula venceu Geraldo Alckmin e José Serra, dois políticos mais altos que ele. Mas perdeu para Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso, que tinham vários centímetros de altura a mais. Portanto, essa teoria provavelmente não deve aplicada às eleições brasileiras.
Mas, por via das dúvidas, talvez fosse interessante, depois da apuração, repetir o teste nas crianças suíças, mostrando as fotos de Lula e de Bolsonaro. Vamos ver quem vai ser escolhido o comandante pelos jovenzinhos. Se os resultados do estudo forem iguais aos das urnas brasileiras, teremos uma fórmula imbatível para saber quem pode ter sucesso político ou não – isso pouparia muito tempo, dinheiro e paciência.