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Como a diversidade pode interferir nas próximas eleições

Para chegar ao segundo turno das eleições municipais de 2020, o hoje deputado federal Guilherme Boulos não falou nada de socialismo em sua campanha. Não lembrou, durante seus comerciais de TV e rádio, que era líder do MTST, um grupo que invade propriedades particulares na cidade de São Paulo para abrigar pessoas que não têm moradia. Tampouco Boulos falou sobre imperialismo ou defendeu o governo da Venezuela. Os principais pilares de sua campanha foram diversidade, inclusão e defesa do meio ambiente.

Na prática, o candidato do PSOL percebeu – antes de todos os demais políticos – a importância desses temas junto ao eleitorado jovem. Fez uma campanha com foco no que se chama hoje de ESG e obteve 70 % dos votos de quem tinha entre 16 e 24 anos. Além disso, conseguiu dobrar sua votação entre o primeiro e o segundo turnos, fechando o pleito com 2,17 milhões de votos (contra 1,08 milhão na primeira etapa).

Boulos saiu derrotado da campanha. Mas, se o seu discurso ficasse no blábláblá esquerdista de sempre, provavelmente não teria passado ao segundo turno. Logicamente, o hoje deputado se beneficiou do desgaste pelo qual passava o PT três anos atrás – o candidato da sigla, Jilmar Tatto, por exemplo, ficou em sexto lugar na corrida eleitoral. De qualquer modo, ele teve a sensibilidade de perceber que os jovens queriam uma proposta diferente daquela que vinha de candidatos com pautas tradicionais, como Bruno Covas, Celso Russomano e Márcio França.

Como todos sabem, Bruno Covas foi vítima de um câncer fulminante e não está mais entre nós. Seu vice, Ricardo Nunes, assumiu a prefeitura desde maio de 2021 e está se movimentando para obter a reeleição. Seu trabalho será árduo: uma pesquisa do Instituto Paraná, realizada em março deste ano, mostrou que 60 % dos eleitores paulistanos não souberam dizer qual seria o nome do atual prefeito da cidade.

É por isso que Nunes está traçando sua estratégia eleitoral com cuidado. Primeiro, se aproximou do ex-presidente Jair Bolsonaro para garantir o apoio da direita à sua candidatura. Depois, se movimentou nos bastidores para evitar que houvesse um racha profundo entre os eleitores conservadores com o eventual lançamento do nome de Ricardo Salles à prefeitura (o ex-ministro acabou desistindo, sem antes vociferar contra o presidente do PL, seu partido, Valdemar da Costa Neto, que não queria oferecer a legenda ao hoje deputado federal).

O PL ainda estuda colocar o senador Marcos Pontes no páreo – mas esse movimento parece ser muito mais uma tentativa de elevar o cacife do Partido Liberal junto a Nunes do que uma intenção de fato.

O prefeito, de qualquer forma, trabalha fortemente com a hipótese de ser o único nome forte do centro e da direita no próximo pleito municipal. E, para consolidar sua candidatura, resolveu dar um passo um tanto ousado.

Contratou Duda Lima, o marqueteiro do PL (responsável pela campanha de Bolsonaro em 2022 e contrário à tática antissistema pregada pelo filho do ex-presidente, Carlos), e encomendou a ele uma estratégia voltada para uma pauta que envolve ações de diversidade.

O primeiro movimento deste plano será um vídeo gravado com Leonora Mendes de Lima, mais conhecida por Léo Áquila. Ela, uma mulher trans, defende a gestão de Nunes na peça publicitária e reforça que o prefeito deu grande apoio para a realização da maior parada LGBTQIA+ do mundo, na avenida Paulista (imagem).

Caso se mantenha nessa trilha e resista a pressões vindas do eleitorado bolsonarista, Nunes vai primar pelo ineditismo, juntando grupos de apoio improváveis e até rivais no plano dos costumes. O prefeito, no entanto, corre um risco razoável ao escolher essa tática – o de não obter votos dos mais jovens, ávidos por um discurso de inclusão, e ao mesmo tempo perder o apoio dos conservadores.

As pesquisas que serão feitas após a divulgação do vídeo com Léo Áquila vão ser decisivas para traçar a estratégia definitiva de Ricardo Nunes no ano que vem. Aguardemos.

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