Na semana em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz sua primeira visita de estado à França em 13 anos, uma imagem simbólica capturou a atenção: Lula e Emmanuel Macron, de mãos dadas, com a Torre Eiffel iluminada em verde e amarelo ao fundo. Ao lado, as primeiras-damas Janja da Silva e Brigitte Macron. O clima descontraído após um jantar no Palácio do Eliseu rapidamente viralizou e foi compartilhado inclusive pelo presidente francês. Mas não é só.
🇧🇷🇫🇷 pic.twitter.com/HFj9N6rVmR
— Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) June 5, 2025
Por trás dos gestos afetuosos, um jogo complexo de interesses estratégicos e de reconstrução de imagem para ambos. Por isso o registro foi escolhido a Imagem da Semana. Do ponto de vista pessoal, Macron e Lula tentam angariar simpatias internas. Macron foi flagrado na semana passada sendo estapeado pela esposa, Brigitte. Já Lula teve que lidar com as críticas ao comportamento de Janja, que criticou a China em viagem oficial ao país.
Na França, Lula e Macron foram só sorrisos, apesar dos impasses comerciais e diplomáticos. Lula pressionou o francês a apoiar a assinatura do acordo Mercosul-União Europeia, travado há anos. Macron é só sorrisos, mas é pressionado pelo setor agrícola e ambientalistas. Lula argumentou que ambos os blocos têm agriculturas complementares e criticou a desconfiança internacional sobre o combate ao desmatamento no Brasil – e ao uso excessivo de agrotóxicos.
Além das questões comerciais, os dois abordaram temas globais espinhosos. Lula classificou os ataques israelenses à Faixa de Gaza como “genocídio premeditado”, enquanto Macron fez crítica à Rússia no conflito com a Ucrânia, o que o brasileiro evita. As diferenças mostram estilos distintos de liderança: Lula busca protagonismo global com viés humanitário, e Macron segue as convenções diplomáticas do eixo ocidental.
O gesto de Lula ao pedir que Macron “abra o coração” para o acordo com o Mercosul escancara sua estratégia conciliadora e pragmática. Mas a reação francesa reafirma que os entraves são mais técnicos e políticos do que emocionais. O dilema, portanto, permanece: como conciliar livre comércio com padrões ambientais rigorosos sem cair no protecionismo disfarçado?
De bonito e bom para ambos, só a fotografia em clima de amor entre irmãos – um de centro-direita e outro de centro-esquerda.