Um vídeo postado pelo ator Mateus Solano há dois dias causou surpresa no meio político. Vários atores e atrizes, começando por Larissa Maciel (que viveu a cantora Maysa em minissérie da TV Globo, na imagem), aparecem criticando o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Além dos artistas, ambientalistas como Aline Matulja e ativistas como Fernanda Cortez também protestam na gravação. O roteiro, lido por várias personalidades, diz: “A gente elegeu esse governo porque foram quatro anos dando ré na história. A gente elegeu esse governo porque ele se pintou de verde, dizendo para o Brasil e para o mundo que a natureza é nosso maior patrimônio. Que a floresta tiraria de vez o nosso país do mapa da fome. Mas depois de cem dias de governo… acabou o clima”.
Esse movimento mostra que a causa ambiental fala mais alto, em boa parte da esquerda, do que a orientação política. Apesar da aparente simpatia da classe artística com o governo petista, há muita gente descontente com os rumos da administração – especialmente em relação ao meio ambiente.
O vídeo, no entanto, começa cutucando o governo, mas protesta contra temas que são mais de responsabilidade do Congresso do que do Executivo. No fundo, o libelo alfineta Lula por não reagir contra as decisões do Parlamento – e conclama o presidente a vetar decisões tomadas pelos congressistas.
Esse vídeo vem à tona exatamente em um momento em que as relações entre Executivo e Legislativo estão em um momento delicado. O presidente da Câmara, Arthur Lira, já deu um puxão público de orelhas nos responsáveis pela articulação política do Planalto e, na prática, pediu a cabeça de pelo menos um dos ministros encarregados de negociar com o Congresso.
Para piorar, a Polícia Federal está promovendo uma investigação que mira em pessoas ligadas a Lira e cujos efeitos podem respingar no parlamentar. Isso, evidentemente, em nada ajuda a tornar mais suaves as relações entre os chefes do Executivo e de parte do Legislativo.
Se Lula fizer o que os artistas e ambientalistas desejam, vetando as decisões do Congresso em relação ao meio ambiente (e também o chamado Marco Temporal), o relacionamento entre Parlamento e Planalto, que já não anda às mil maravilhas, pode azedar de vez.
O Planalto terá de pensar duas vezes antes de vetar as decisões parlamentares. Mas, ao mesmo tempo, não pode se dar ao luxo de ver a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ficar totalmente esvaziada. Marina já se desentendeu com o presidente no passado e pediu demissão em meio a turbulências causadas por vários tiros de fogo amigo. Deixar a ministra ir embora novamente seria um desgaste enorme para o governo.
O vídeo toca na ferida em pelo menos um ponto importante – quando menciona que havia uma expectativa positiva, no exterior, da agenda ambientalista do PT, considerada bem mais arrojada do que a de Jair Bolsonaro.
No plano político, Lula já desagradou líderes europeus ao defender a posição da Rússia no conflito contra a Ucrânia. Mas, ao aceitar passivamente uma pauta ambiental conservadora, pode atrair a ira dos ativistas do Velho Continente, o que pode emperrar seus planos de se tornar uma liderança internacional.
Pressionado por todos os lados, Lula vai desagradar alguém – e terá de lidar com a raiva daquele que ficar do lado rejeitado.