A campanha do presidente Jair Bolsonaro pelo retorno do voto impresso foi forte neste domingo (1º), com manifestações em 17 capitais, quando discursos transmitidos por seus apoiadores criticaram abertamente o Supremo Tribunal Federal (STF), alegando suspeitas infundadas de fraudes nas eleições passadas. Foi uma sequência da live do presidente na quinta-feira (29), transmitida ao vivo pela TV Brasil, a rede pública do governo, quando ele mesmo admitiu não ter provas que corroborem suas afirmações. “Não tem como se comprovar. São indícios. Crime se desvenda com vários indícios”, declarou. “Suspeitas, fortíssimas”. Bolsonaro também refletiu sobre os poderosos: “Subterfúgios para fraudar as eleições são usados por quem está no poder”. Só esqueceu de dizer que não há posição com maior acúmulo de poder na democracia brasileira do que a sua.
Em resposta, os ministros o STF fazem ponderações educadas e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) manteve uma campanha no Twitter para desmentir as afirmações do presidente (abaixo). Porém, conforme revelou a Folha de S.Paulo na sexta-feira (1º), nos bastidores os ministros do STF e do TSE classificaram a live como “patética”. Para eles, o presidente está desesperado com a perda de popularidade e por ser alvo de denúncias de irregularidades e corrupção na aquisição de vacinas.
O resultado é um estado de constante litígio institucional entre o chefe do Executivo e boa parte dos ministros da mais alta corte do país. Todavia, os magistrados só se manifestariam publicamente caso Bolsonaro apresentasse algum ataque ou “evidência” que fugisse demais ao roteiro, o que até agora não ocorreu.

Quem incomoda o presidente é o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso. “Qual o poder de persuasão dele [Barroso]? Que poder esse homem tem?”, ao se referir às articulações entre o Judiciário e o Legislativo para a não aprovação do voto impresso que tramita no Congresso – há uma coalização de 11 partidos, incluindo da base. Já para o STF e o TSE, quem causa mal-estar é o ministro da Justiça, Anderson Torres, que fez figuração na live. Torres tem sob sua tutela a Polícia Federal e sua presença foi vista como uma provocação.
Com todo esse imbróglio, o presidente do STF, Luiz Fux, deve rebater as ameaças no discurso que fará na reabertura dos trabalhos do Judiciário, em 2 de agosto. Cauteloso, ele deve tentar apaziguar a relação entre os Poderes (Executivo), já que Legislativo e Judiciário se respeitam e tem harmonia. Uma nova reunião deve ser convocada. A que estava marcada para 14 de julho foi cancelada, após Bolsonaro ser internado por obstrução intestinal.
Diante das declarações de Bolsonaro, o TSE esclareceu algumas fakes da live
Pelo menos 46 países utilizam votação eletrônica em algum tipo de eleição, sabia? E mais: 16 países, incluindo o Brasil, não usam boletins de papel e registram o voto eletronicamente. Saiba + no vídeo e sempre verifique um #fato antes de compartilhar, p/ que não vire #boato ✅ pic.twitter.com/wVy2eWFUyI
— TSE (@TSEjusbr) July 29, 2021
Você sabia? O resultado definitivo de cada urna sai impresso e é tornado público após a votação, e ele pode ser facilmente confrontado, por qualquer eleitor, com os dados divulgados pelo @TSEjusbr na internet, após a conclusão da totalização – veja no vídeo ▶️ pic.twitter.com/f2hGL3Cvkq
— TSE (@TSEjusbr) July 30, 2021
#FatoOuBoato ❕ É falsa a planilha que mostra inversões entre Aécio Neves e Dilma Rousseff no 2º turno de 2014. Documento oficial do @TSEjusbr mostra apuração minuto a minuto; houve uma única mudança de colocação entre os candidatos: https://t.co/iFqmgL9aka pic.twitter.com/MgBQR17wHi
— TSE (@TSEjusbr) July 30, 2021
Índia, Rússia, França e EUA estão entre os países que usam, em algumas regiões, o voto inteiramente digital (sem impressão). Segundo o @Int_IDEA, 27 países (de 178 analisados) usam tecnologia eletrônica em eleições nacionais: https://t.co/hu6ha8kKkB ❕ pic.twitter.com/8Zgifbo4pT
— TSE (@TSEjusbr) July 29, 2021
A apuração dos resultados é feita automaticamente pela #UrnaEletrônica ao encerramento da votação. Os dados criptografados são transmitidos ao @TSEjusbr, que checa a autenticidade/integridade e faz a totalização, em processo PÚBLICO e auditável: https://t.co/IcIdQyQH39 ❕ pic.twitter.com/gtO6MYSGiQ
— TSE (@TSEjusbr) July 29, 2021
O RDV é uma espécie de tabela digital que armazena todos os votos à medida que são digitados na urna. Com esse documento, os partidos podem não somente recontar os votos como também apurar e a totalizar, independentemente dos procedimentos oficiais por parte da #JustiçaEleitoral pic.twitter.com/GKyPvy2hDl
— TSE (@TSEjusbr) July 29, 2021