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A polarização no Brasil turbina a direita e esvazia o centro

Uma pesquisa recente do site Poder 360 mostra um efeito imediato da polarização política no país: cresceu de forma substancial o número de eleitores que se dizem de direita. Em agosto de 2021, havia 24 % do eleitorado nesta faixa política. Em abril de 2022, esse índice subiu para 33 %, um salto de 9 pontos percentuais. Ao mesmo tempo, o centro diminuiu em uma proporção parecida, de 25 % para 17 %. A esquerda encolheu 1 % (provavelmente dentro da margem de erro), de 24 % para 23 %. Já aqueles que não sabem responder sobre sua orientação ideológica eram 27 % em agosto de 2021, o mesmo número de agora.   

Em tempos de polarização, os lados opostos tendem a ganhar musculatura. Mas, neste caso, apenas a direita cresceu. Como se explica isso?

A pressão exercida nas redes sociais explica em parte esse fenômeno. Hoje, há mais grupos organizados de direita no mundo online do que de esquerda. Essas organizações são extremamente disciplinadas em exaltar a figura do presidente Jair Bolsonaro e atacar a esquerda – recorrendo muitas vezes ao expediente das fake news. Dessa forma, ganham massa crítica e vão aumentando seu poder de fogo.

Ao mesmo tempo, muitos eleitores que eram de direita e tinham receio de assumir sua posição política se sentiram mais confortáveis de escancarar seu lado ideológico. É sempre bom lembrar que, por conta da ditadura militar, os direitistas sempre foram alvo de críticas e tachados como inimigos da democracia. Hoje, no entanto, essas pessoas olham em volta e não sentem mais receio de dizer como pensam.

Talvez ainda existam enrustidos dentro dos que se dizem centristas – incluindo muitos de esquerda. Por conta dos escândalos de corrupção envolvendo o PT, ainda há quem se sinta envergonhado de assumir sua condição política.

Mas, do mesmo jeito que existem democratas entre os direitistas, há pessoas honestas e probas na esquerda. Infelizmente, vivemos em uma era na qual os estereótipos ganharam um protagonismo indesejável, que trabalha contra o diálogo e o entendimento.

Por enquanto, a esquerda ainda reluta em investir maciçamente na propagação de seus ideais no ambiente digital. Há algumas iniciativas, é verdade, mas inferiores numericamente àquelas ligadas à direita.

Essa timidez se dá por dois fatores.

Um deles é a falta de um domínio amplo da linguagem online. Um dos males modernos – a obsessão pelo lacre – é um dos motores das redes sociais. Neste sentido, partidários de Bolsonaro são eficientes e espalham suas mensagens com rapidez e diligência (repetindo: muitas vezes utilizando o expediente de notícias falsas e manipulação de vídeos para corroborar suas bandeiras).

Outro problema é o dilema moral. Nos últimos tempos, a esquerda vem condenando Fake News e o trabalho desenvolvido por aquilo que chama de “milícia digital”. Como é que, de uma hora para outra, poderia entrar nessa guerra utilizando as mesmas armas do inimigo? Este é um impasse que pode custar caro à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva.

A pesquisa chama atenção ainda por dois tópicos.

Um deles é em relação à juventude. Convencionou-se a dizer que os jovens brasileiros são de esquerda. Mas a enquete do Poder 360 aponta que a realidade talvez não seja essa. Segundo o estudo, 24 % dos jovens entre 16 e 24 anos não sabem dizer seu posicionamento ideológico. Cerca de 18 % afirmam ser de centro. São 23 % aqueles que se dizem esquerdistas – e 36 % os alinhados com a direita.

Por fim, há contradições típicas de um país como o Brasil. Afinal, uma parcela pequena de votos conquistados por Bolsonaro em 2018 veio de ex-eleitores de Lula e de Dilma Rousseff. A pesquisa mostra que, daqueles que se dizem de esquerda, 12 % votarão em Bolsonaro. E dentro do espectro direitista, 14 % votarão em Lula.

De todo esse quadro, é possível extrair uma dúvida e um certeza.

A dúvida é sobre a representatividade dos extremos representam dentro das matizes mais amplas. Quantos extremistas temos entre os 33 % de direitistas e 23 % de esquerdistas? A resposta a essa pergunta é importante para mapearmos melhor como se comporta o eleitorado brasileiro e qual é o seu verdadeiro compromisso com a democracia – algo importantíssimo para crescermos como Nação.

A certeza é a de que o Brasil é um país no qual muitos eleitores escolhem seus candidatos com base em razões que não necessariamente têm fundo ideológico. E igualmente movido a paixões que extrapolam o raciocínio objetivo. Este cenário é ideal para que cresçam candidaturas sem conteúdo e com discurso populista – um mal que, infelizmente, ainda teremos de lidar por muito tempo no país.

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