Pesquisar
PATROCINADORES
PATROCINADORES

A insensibilidade que surge da polarização

Muitos apostavam em um arrefecimento da polarização política depois das eleições. Mas, o que se percebe nas redes sociais é que o rancor anda em alta – e de ambos os lados. Tomemos como exemplo dois memes que estão circulando por aí. O primeiro, que é compartilhado com frequência entre seguidores do presidente Jair Bolsonaro, diz o seguinte: “Aqueles que pedem respeito ao Gilberto Gil são os mesmos que hostilizam a Regina Duarte e comemoram a lesão do Neymar”. Do outro lado do espectro ideológico, uma outra postagem tem bastante sucesso: “Ignora aqueles que passam fome e pedem ajuda nos sinais, mas manda comida para quem está na frente dos quartéis”.

Antes de mais nada, existem pessoas que combinam perfeitamente com os personagens descritos nos memes, tanto de direita como de esquerda. Mas não podemos afirmar que todos que criticam o assédio a Gilberto Gil apoiam os apupos a Regina Duarte – ou que a totalidade de quem apoia os inconformados em frente aos quartéis sejam necessariamente pessoas insensíveis à fome que acomete boa parte da população.

Um dos efeitos mais visíveis da polarização é a desconstrução da imagem pública do inimigo. A lógica de quem aposta neste raciocínio dicotômico é mostrar que só existe um lado certo – o próprio. Em consequência, se demoniza os oponentes, usando todos os argumentos possíveis para isso. Durante a campanha, por exemplo, vimos a primeira-dama Michelle Bolsonaro afirmando que estávamos no meio de uma guerra espiritual, do mal contra o bem (sendo o lado dela, evidentemente, o bem).

Conforme vivemos nesse ambiente beligerante, os ânimos vão se acirrando de forma exponencial. Tempere-se essa situação com o espírito competitivo que muitos carregam dentro de si e teremos um quadro explosivo, cuja octanagem aumenta dia após dia.

Vamos assumir que as Forças Armadas continuem apartidárias e legalistas. O que ocorrerá após a posse de Luiz Inácio Lula da Silva?

Haverá um movimento semelhante ao orquestrado pelo PT durante o mandato de Fernando Henrique Cardoso – com pichações que diziam “Fora FHC” nos muros das grandes cidades. A diferença é que, na atualidade, o barulho promete ser muito maior, gerando uma discórdia ainda maior do que a que observamos hoje.

Dessa forma, é bem possível que tenhamos, no curto prazo, um cenário de desconforto. Os direitistas batendo nos esquerdistas; os esquerdistas batendo nos direitistas; e direitistas e esquerdistas batendo nos centristas (que, até agora, não bateram em ninguém).

Precisamos, no entanto, sair desse lamaçal de agressividade tóxica – seja verbal ou física.

A polarização reforça, ainda, uma característica humana bastante nefasta: a arrogância. Neste panorama, os lados rivais não têm dúvidas e não querem debater. A única força motora que se observa é o ataque aos inimigos ideológicos e o combustível é a certeza absoluta de que o ideário de seu lado não permite críticas.

Mas a arrogância abre portas para outra característica letal: a hostilidade.

Em um debate acalorado, nem sempre é possível concatenar bem as ideias e argumentar com solidez. Por conta disso, muitos debatedores começam a temperar a argumentação com ataques pessoais, que nada têm a ver com o tópico de discussão. É geralmente nesse momento que a civilidade das pessoas vai para o espaço.

Vamos viver mais quatro anos nesse inferno? Ou baixar a bola e termos debates mais racionais? Vamos ser mais produtivos. Esse embate, até agora, não nos levou a lugar nenhum.

Compartilhe

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pesquisar

©2017-2020 Money Report. Todos os direitos reservados. Money Report preza a qualidade da informação e atesta a apuração de todo o conteúdo produzido por sua equipe.