A pesquisa Quaest que mostrou a impopularidade perene do presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua dando o que falar. O jornal “O Globo” de ontem analisou o estudo utilizando a renda de até dois salários-mínimos como critério para ver qual eram as intenções de voto entre a população mais carente. O título da matéria diz tudo: “Nomes da direita avançam entre eleitores mais pobres, fortaleza das vitórias de Lula”.
O presidente vem mostrando uma queda paulatina entre o eleitorado desta faixa salarial nos últimos três meses. Em contrapartida, sete candidatos ligados à direita subiram neste mesmo período. Na maioria dos casos, não é um crescimento avassalador (Jair Bolsonaro, Michelle Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, Ratinho Jr., Romeu Zema e Eduardo Leite), ficando em um aumento de dois a três pontos percentuais.
Mas há dois nomes que mostram uma arrancada significativa. O primeiro é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que sai de 20% para 29% das intenções de voto. O outro destaque vai para Ronaldo Caiado, que parte de 15% para 26%. Vale ressaltar que, neste corte de eleitorado, Lula vence todos os oponentes, mas cai significativamente nos casos de Tarcísio (58% a 49%) e Caiado (62% a 51%).
Quando lembramos que a rejeição a Lula ultrapassa a marca de 60% e que Tarcísio é rejeitado apenas por 33% dos eleitores, temos aqui um cenário preocupante para o governo. Aos olhos frios destes números, não poderia haver muita dúvida sobre quem deveria ser o candidato da oposição ao Planalto em 2026. Mas para que Tarcísio seja candidato, é preciso que Bolsonaro o escolha como representante no próximo pleito. Sem esse aval – e o apoio do PL – o governador irá optar pela reeleição (praticamente garantida).
Outro detalhe da pesquisa Quaest merece ser destacado. O instituto perguntou o seguinte: “Você concorda ou discorda que Lula perdeu a conexão com o povo?”. “Sim” foi o que responderam 63% dos entrevistados (para os jovens entre 16 e 34 anos, esse índice foi de 68% e para os beneficiários do Bolsa Família, 59%).
Muito se discute sobre as razões que tornam Lula impopular. Uma delas é o envelhecimento de seu discurso, baseado em projetos sociais que hoje são vistos como políticas de Estado (o próprio Bolsa Família, Fies, ProUni e Minha Casa, Minha Vida). Nenhum eleitor acredita que um candidato de direita vá descontinuar nenhuma dessas iniciativas.
A percepção é de que o governo não entrega aquilo que o eleitorado quer – e o que desejam os mais pobres? Eles querem ascensão social. Uma economia que dê saltos significativos para criar promoções nas empresas e oportunidades para quem possui veia empreendedora. Embora tenhamos um índice muito baixo de desemprego, a mobilidade dentro das hierarquias das empresas ainda está travada – e o clima de negócios, aliado a juros altos, ainda não é propício para uma explosão empreendedora.
Por fim, há uma falta de conexão entre Lula e os eleitores, literalmente falando. Lula não tem aparelho celular. Por isso, não sente o pulso daquilo que a população quer, sendo filtrado pelos assessores mais próximos e pela família. Além do mais, ele não é um criador de conteúdo. Todas as suas peças de comunicação são produzidas por sua equipe, o que tira boa parte de espontaneidade dos vídeos postados nas redes sociais. Com isso, o presidente vai se afastando cada vez mais da população, que quer uma comunicação olho no olho, ao contrário do que existe hoje.
Todos os concorrentes que cresceram entre as camadas mais pobres da população, no entanto, dominam com maestria a comunicação via redes (incluindo Tarcísio, que parecia muito tímido nesta seara quando seu mandato começou). Se Lula quiser se manter competitivo em 2026, terá de modernizar seu discurso, tanto no conteúdo como na forma. Ele vai precisar de um banho de loja ideológico para ser competitivo. Mas quais são as chances de isso acontecer? Zero. Ou bem próximas de zero.