Protecionismo dos EUA redirecionaria produção asiática para o Brasil, assim como a produção nacional pode ir para fora. Cenário é incerto
O mercado de pneus caiu 3,1% no primeiro trimestre de 2025, totalizando 11,7 milhões de unidades, segundo a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip). O principal recuo ocorreu no mercado de reposição, com queda de 9,2% nas vendas.
Em meio a esse cenário, a indústria nacional demonstra preocupação com os impactos do tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A medida, que impõe alíquotas mais altas sobre produtos importados da Ásia, deve redirecionar a produção de países como China, Vietnã, Camboja e Tailândia para mercados alternativos. Um dos alvos deve ser o Brasil.
Segundo a Anip, o aumento nas importações pode comprometer a competitividade local, que já enfrenta uma forte presença de produtos estrangeiros. “Há quatro anos lidamos com a entrada de produtos muitas vezes abaixo do custo de produção nacional. O tarifaço pode agravar esse cenário”, alerta a entidade.
Atualmente, o setor brasileiro conta com 21 fábricas de 11 fabricantes, distribuídas em sete estados, gerando 32 mil empregos diretos e mais de 500 mil indiretos.
Oferta maior, preços menores?
Para Rogério Gonçalves, diretor cadeia de suprimentos da Magnum Tires e membro da Associação Brasileira dos Importadores e Distribuidores de Pneus (Abidip), o Brasil deve sentir os efeitos das tarifas norte-americanas de duas formas.
A primeira é o aumento da oferta de pneus importados, com fabricantes asiáticos buscando novos mercados para escoar sua produção. A segunda é uma possível ampliação das exportações brasileiras para os EUA, aproveitando tarifas mais baixas, câmbio favorável e menor custo logístico.
“Esse movimento pode até provocar uma inversão no mercado interno, com a indústria local exportando mais e o mercado doméstico sendo abastecido majoritariamente por produtos importados”, explica Gonçalves.
No bolso
Com o possível excesso de oferta, os preços dos pneus no Brasil podem cair. No entanto, o cenário não é definitivo. Se o governo brasileiro decidir restringir importações para proteger a indústria nacional, ou se a produção local for fortemente direcionada à exportação, os preços internos podem subir.
“A depender da política comercial adotada pelo governo brasileiro, o consumidor pode ver uma redução ou aumento nos preços. Tudo vai depender do equilíbrio entre proteção à indústria e a entrada de produtos importados”, conclui Gonçalves.