Isaias Bernardes de Oliveira tinha 18 anos quando foi trabalhar na Sorveteria Chiquinho, recém fundada pelo seu pai na cidade de Frutal (MG). Em pouco tempo, comprou o negócio. Fazer crescer uma empresa que se apresenta com um nome diminutivo foi o menor dos problemas do jovem de 18 anos. O ex-“faz tudo” em um mercado de Frutal logo passou a enfrentar problemas comuns a todos os microempreendedores no país – e, por que não dizer, até de grandes empresários –, como a burocracia paquidérmica do estado brasileiro, a carga tributária enlouquecedora e a dificuldade a financiamento barato. São fatores que matam centenas de negócios a cada ano. Oliveira, porém, fugiu desse destino. Nas décadas seguintes, a pequena sorveteria se transformou na Chiquinho Sorvetes, uma franquia com 400 lojas em 25 estados, além de três unidades recém-inauguradas nos Estados Unidos, com faturamento anual de R$ 300 milhões. Abaixo trechos da entrevista de Oliveira concedida a MONEY REPORT:
Como foram os primeiros anos da Chiquinho Sorvetes?
Sempre foi muito difícil. No começo era uma loja de 16 metros quadrados numa cidade com 30 mil habitantes no Triângulo Mineiro. Eu tinha que empreender e, ao mesmo tempo, sobreviver. Em 1986, me mudei para Guaíra, interior de São Paulo, e resolvi abrir a primeira filial. Fiz um empréstimo bancário que, naquela época, era feito por taxa de juros prós-fixada atrelada à inflação. Quando tomei o dinheiro, a inflação estava próxima de zero, porque o Plano Cruzado havia congelado os preços. Mas logo a inflação disparou e minha dívida aumentou em mais de dez vezes. Tive que renegociar com o banco para não fechar. Depois disso houve outros planos econômicos. Mas a inflação e o alto custo de capital sempre tornaram os negócios muito difíceis.
Como o senhor conseguiu sobreviver?
Meu pai, quando viu a dívida, disse para eu fechar as portas porque o valor era impagável. Mas eu não aceitei. Fui negociar diretamente com o gerente do banco. E adotei um modelo de custos baixíssimos. Eu e minha esposa fazíamos tudo: fabricávamos o sorvete, atendíamos no caixa, servíamos os clientes, negociávamos com fornecedores… enfim, tudo. Não foi fácil.
Qual o principal obstáculo ao empreendedorismo no país?
É o sistema tributário. Eu atuo em quase todos os estados. E, pelo menos em relação ao sistema tributário, é como se houvesse outros países dentro do Brasil. Cada estado tem uma regra diferente. Somos tributados em todos os momentos e pagamos impostos em cascata. A burocracia tributária no Brasil é muito difícil. O governo, que deveria nos ajudar, não faz absolutamente nada para isso. Pelo contrário. Só dificulta as coisas e cria obstáculos.
O senhor abriu recentemente três lojas nos Estados Unidos. Qual a diferença?
Lá as regras e os processos são muito rígidos e muito bem definidos. Só pode fazer uma coisa depois de cumprir uma etapa anterior. Não é fácil, mas burocracia é muito menor e as regras são claras. E, depois que você abriu o negócio, não precisa se preocupar com mais nada. Tem só que pagar o imposto de renda se tiver lucro. É tudo muito mais fácil.
Como o senhor classificaria os empreendedores no Brasil?
Como pessoas corajosas. Quem é muito racional ou conservador não vai empreender no Brasil porque vai pensar muito nas dificuldades e vai acabar desistindo. Eu comecei vendendo sorvetes numa cidade do interior e hoje somos um grupo com sete empresas: de logística, arquitetura, software, publicidade. A Chiquinho Sorvetes hoje tem 440 lojas franqueadas, e crescemos a uma média de 25% ao ano nos últimos sete anos.