Especialista em Direito Digital explica os caminhos a serem percorridos e os fatores que ainda impedem o protagonismo do país no setor
Os data centers, estruturas essenciais para o funcionamento de tecnologias que vão desde assistentes virtuais até ferramentas de IA generativa, são os responsáveis por armazenar os dados que alimentam a inteligência artificial que usamos todos os dias. O Brasil tem grandes chances de se tornar um dos principais polos globais de data centers focados nesse setor. É o que aponta a especialista em Direito Digital e IA, Patrícia Peck, CEO da Peck Advogados, em entrevista ao Podcast Canaltech.
Data centers são locais equipados para armazenar, processar e proteger grandes volumes de dados. No caso da IA, essa infraestrutura precisa ser ainda mais robusta, porque processar modelos inteligentes exige alto desempenho computacional, grande capacidade energética e sistemas avançados de resfriamento. “Esses data centers acabam se tornando verdadeiras minas de ouro de dados. Eles são fundamentais para viabilizar o crescimento sustentável da Inteligência Artificial”, explica Peck.
O Brasil, e mais especificamente a região Sul, tem se mostrado cada vez mais atrativo para receber investimentos em data centers de IA. O motivo? Uma combinação estratégica de fatores:
- Matriz energética mais limpa, com forte presença de fontes renováveis;
- Disponibilidade de recursos hídricos;
- Boa infraestrutura;
- Incentivos fiscais em estudo;
- Mão de obra qualificada.
“O mundo inteiro está em busca de locais que suportem a expansão dos data centers. Países como Estados Unidos e nações da Europa já estão enfrentando desafios de energia e espaço. O Brasil surge como uma oportunidade para suprir essa demanda”, comenta Peck.
Apesar de atrair investimentos, o Brasil ainda não tem uma legislação própria que regule a instalação e operação de data centers, especialmente aqueles voltados para inteligência artificial. Existe hoje o projeto de lei 3018/2024, que busca criar um marco regulatório para o setor, mas que está parado no Senado. Segundo a especialista, o impasse envolve vários pontos sensíveis:
- Impacto ambiental, já que data centers consomem muita energia;
- Cibersegurança, uma vez que esses centros podem armazenar dados de outros países, tornando o Brasil um possível alvo de ataques;
- Modelo tributário, que precisa equilibrar incentivos para atrair empresas, mas sem prejudicar as cidades que recebem essas estruturas.
“Falta esse equilíbrio. Sem uma lei, há insegurança para o investidor. Mas se a lei for muito restritiva, o risco é justamente afastar os investimentos”, alerta.
Sustentabilidade?
A discussão sobre sustentabilidade é central. Há casos em outros países, como no Reino Unido, em que projetos de habitação foram barrados porque a energia disponível estava comprometida com data centers. “É preciso pensar no impacto local. Hoje pode parecer suficiente, mas qual será o consumo daqui cinco ou dez anos? É necessário um modelo que não gere competição com a população por recursos básicos”, afirma a especialista.
O Brasil tem chance de ser protagonista?
A resposta da Dra. Patrícia Peck é clara: sim! O Brasil reúne os elementos certos, energia limpa, espaço, demanda interna crescente e interesse internacional. Além disso, há um ponto estratégico: trazer mais data centers significa também fortalecer a soberania de dados, com menos dependência de estruturas no exterior. “Se bem estruturado, isso pode reduzir o custo da IA no Brasil e acelerar nossa participação na corrida global pela Inteligência Artificial”, conclui.
O país está diante de uma oportunidade única. Mas o caminho passa, necessariamente, pela definição de regras claras, que garantam segurança jurídica, responsabilidade ambiental e proteção de dados.