Operações minguaram, mas busca por oportunidades em alimentos e bebidas mantêm empresas bem posicionadas atentas. Zaxo estima movimentações de R$ 600 milhões em 2025
Nos setores varejista e industrial de alimentos e bebidas, as fusões e aquisições (M&A) seguem com algum vigor, se comparado ao marasmo no exterior desencadeado pela guerra tarifária entre Estados Unidos e China. Em um ambiente de consumo em constante mudança, empresas bem posicionadas podem manter estratégias de consolidação para garantir vantagens competitivas e diversificação de portfólios.
A expectativa é da movimentação de R$ 600 milhões a longo de 2025, com M&As no setor de alimentos e bebidas, aponta Ronaldo Rodrigues, da Zaxo M&A Partners. Ele analisou a curva de mais de 20 mil transações entre 1990 e 2023, em 18 países. A conclusão é foi que a incerteza econômica pode reduzir em quase 7% o valor das aquisições, de acordo com a lógica de comprar na baixa. No entanto, a presença de opções de crescimento na empresa alvo moderam este efeito reduzindo-o para quase 1%. Além disso, a cada 1% pode ocorrer uma elevação de 16% no enterprise value, o valor de uma empresa incluindo capitalização de mercado, dívidas e caixa.
Essa constatação pode demonstrar que investimentos estratégicos podem compensar os riscos do cenário incerteza. No Brasil não deve seria tão diferente. Assim, esse tipo de movimento pode perder força, mas sem cair na estagnação. Em janeiro, antes do tarifaço, a JBS adquiriu 48,5% de participação da Mantiqueira Alimentos, líder na produção de ovos no país, por R$ 1,9 bilhão. Essa operação marcou a entrada da processadora de carnes no setor de ovos, adicionando aproximadamente 4 bilhões de unidades anuais ao seu portfólio.
Neste mesmo ciclo, em novembro de 2024, o empresário brasileiro Ricardo Faria comprou a produtora espanhola de ovos Dagu por € 120 milhões (R$ 756 milhões). A transação posicionou o Hevo Group, de Faria, como o segundo maior produtor de ovos na Espanha, com uma produção anual de 80 milhões de dúzias.
Nada que se compare aos R$ 7,5 bilhões que o Carrefour colocou para adquirir o Big Brasil por R$ 7,5 bilhões, em 2022, e o R$ 1,95 bilhão para as lojas da rede Makro para ampliar sua presença nas regiões Nordeste e Sul e fortalecer o atacarejo.
Rodrigues considera que o cenário exige tomadas de decisão mais rápidas, especialmente em setores altamente competitivos, como em alimentos e bebidas. “O que parece ser risco para muitos, para os estrategistas pode ser uma vantagem competitiva. No Brasil, esse fenômeno é ainda mais evidente, pois o mercado se torna mais atrativo para investidores que enxergam oportunidades mesmo em meio à instabilidade”, afirma.
Diretor da Zaxo, Jefferson Nesello destaca que “investidores mais arrojados podem conseguir negociar prêmios atrativos e, ao mesmo tempo, capturar valor futuro nesse setor tão promissor”. Ainda mais com o avanço de foodtechs, demandas por sustentabilidade, saudabilidade e pressões pela digitalização e eficiência logística, que podem exigir mesmo de quem controle marcas e produtos de grande sucesso.