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Exame: O futuro (sem humanos) da pornografia digital

A inteligência artificial já começa a substituir criadores humanos na economia do desejo

*Por Ricardo Dias

A Playboy foi enterrada pelo digital.

OnlyFans está prestes a ser vendido.

E a próxima vítima da tecnologia? Pode anotar: é a pornografia como conhecemos.

Mas antes de torcer o nariz, pense comigo.

A plataforma criada para empoderar creators se tornou, na prática, uma máquina bilionária movida por conteúdo adulto. Só em 2022, o OnlyFans pagou US$ 5,6 bilhões aos seus criadores — em sua imensa maioria mulheres, e em sua imensa maioria produzindo nudez, fetiches ou pornografia explícita.

Isso não é um julgamento moral. É um fato de mercado.

A pergunta que vale bilhões (e talvez custe milhares de empregos virtuais) é: o que acontece quando esses creators humanos forem substituídos por inteligências artificiais sexy, hiperrealistas, customizáveis e incansáveis?

Spoiler: já está acontecendo.

A nova “fantasia personalizada” não tem CPF

A IA está prestes a fazer com o OnlyFans o que o digital fez com a Playboy: desintermediar o corpo humano.

Você acha que exagero?

Hoje, com ferramentas como Stable DiffusionDALL·E e dezenas de apps open-source, qualquer um pode criar uma influencer virtual, moldada ao seu gosto. Morena, tímida, gamer? Ruiva, dominadora, trilingue? A IA entrega. E não precisa dormir, negociar, cobrar comissão ou se preocupar com assédio.

Mais que isso: ela pode te chamar pelo nome. Lembrar o que você gosta. Enviar mensagens de áudio. Reagir com emoção. E sim, te oferecer uma experiência mais “íntima” do que qualquer atriz pornô de carne e osso.

É o surgimento do amor algorítmico. A substituição da companhia por simulação.

Os dados não mentem (e são preocupantes)

Pesquisas recentes nos EUA e Europa apontam que os homens estão transando menos, se relacionando menos e vivendo mais isolados do que nunca. Segundo o Pew Research, mais de 60% dos homens com menos de 30 anos estão solteiros, e quase um terço deles não fez sexo no último ano.

A pornografia tradicional, com seu modelo passivo de consumo, já não basta. O que essa geração quer é protagonismo emocional. Fantasias sob demanda. Uma “namorada virtual” que jamais diz não. E é aí que entra a IA.

O colapso (ou reinvenção) da economia da atenção

Esse movimento não afeta apenas o universo adulto. Ele muda as regras do jogo da atenção.

Durante anos, criadores humanos disputaram a atenção com base em carisma, autenticidade e frequência. Agora, modelos de IA podem gerar milhares de conteúdos por dia, otimizados por algoritmos, com performance A/B testada em tempo real.

Resultado? A atenção do usuário — já escassa — será ainda mais drenada para simulações que nunca cansam, nunca erram, e são programadas para agradar 100% do tempo.

Isso coloca pressão em todo o ecossistema de conteúdo:

  • Influenciadores reais terão que competir com cópias mais eficientes de IA.
  • Plataformas precisarão decidir se permitem ou banem perfis não humanos.
  • E marcas… bem, marcas terão que reaprender a gerar desejo num mundo onde o desejo é digitalmente domesticado.


Para onde vai o mercado?

Se OnlyFans é o Uber do sexo virtual, a IA será o Waze.

Mais eficiente. Mais personalizada. Mais barata.

E com ganho de escala praticamente infinito.

Empresas já estão nascendo com esse foco: startups criando influencers de IA que vendem nudes, vídeos e experiências “interativas”. Um novo mercado, onde a fantasia é produto. E o produto, agora, não precisa de corpo.

Para marcas, isso levanta dilemas e oportunidades. Como vender desejo num mundo em que o desejo é programável? Como construir marcas humanas em um mercado que simula humanidade melhor do que humanos?

O futuro: mais desejo, menos realidade

O futuro da creator economy não é só collab com influenciadores. É entender quem é o novo consumidor de fantasia — e como ele se relaciona com tecnologia, solidão e desejo.

Quem ignorar essa virada vai parecer tão ultrapassado quanto quem, em 2007, achava que redes sociais eram só uma moda de adolescente.

Nos próximos cinco anos, veremos nascer as primeiras “estrelas pornô” 100% IA que faturam milhões sem jamais existir de verdade. Elas terão fandoms, polêmicas fabricadas, linhas de produtos e — por que não? — contratos com grandes marcas. E talvez a substituição não pare por aí…

Se a fantasia pode ser feita sob medida, com aparência de real, para que precisamos do real?

Nesse caso a IA não está só transformando a pornografia. Ela está redefinindo o que é intimidade, fantasia e conexão no capitalismo digital.

O marketing terá que entender esse novo comportamento para não parecer antiquado. As marcas terão que navegar esse terreno com ética, criatividade e coragem. E nós, como sociedade, vamos ter que responder à pergunta mais desconfortável de todas:

“Se a fantasia pode ser feita sob medida, com aparência de real, para que precisamos do real?”

  • *Ricardo Dias é o cofundador da Adventures, uma construtora de empreendimentos que cria marcas impulsionadas por celebridades e criadores

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