O paulista Rodrigo Terron é fundador da NewHack, aceleradora que combina educação e investimento para apoiar founders técnicos no early stage
O mercado de startups no Brasil passa por transformações rápidas e desafios na criação de empresas globais. Nesse cenário, o empreendedor paulista Rodrigo Terron aposta na educação e no investimento para fortalecer o estágio inicial dos negócios de tecnologia, com foco em founders técnicos — profissionais que desenvolvem soluções baseadas em tecnologia e transformam problemas em oportunidades.
Terron é fundador da NewHack, aceleradora que quer se tornar uma referência nacional inspirada em modelos globais como a Y Combinator, aceleradora icônica do Vale do Silício, principal polo mundial de inovação no estado da Califórnia, nos Estados Unidos. A Y Combinator é conhecida por investir cedo em startups e apoiar seu crescimento por meio da educação, networking e capital.
Filho de pedreiro e cozinheira, Rodrigo estudou em escola pública e iniciou sua carreira como operador de telemarketing em um call center ligado ao mercado de crédito. Em oito anos, subiu a posições de analista, coordenador e gerente de planejamento. Foi nesse período, que se encerrou em 2014, que presenciou a venda da empresa para um grupo alemão.
Formado em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Terron já tinha interesse por tecnologia quando surgiu a oportunidade de se tornar superintendente, cargo que não aceitou para seguir no caminho do empreendedorismo. Em 2014, fundou uma fábrica de software, que começou desenvolvendo sites, depois migrou para e-commerce e aplicativos.
O contato com o universo das startups começou em espaços de inovação como o Google Campus, em São Paulo, onde vendia serviços de tecnologia para negócios emergentes. Em 2016, participou de seu primeiro hackathon — uma maratona de programação para desenvolvimento de soluções em curto prazo. Percebeu que esse tipo de evento era raro no Brasil e identificou uma oportunidade.
Foi assim que criou a Xin, empresa especializada na organização de hackathons, que passou a desenvolver também um software para gestão desses eventos. Entre 2017 e 2019, a Xin realizou 150 eventos presenciais no Brasil, atendendo clientes como Uber e Itaú, e expandiu operações para o exterior, participando do Web Summit em Lisboa e realizando 15 hackathons no Vale do Silício, onde Terron morou por seis meses.
A pandemia interrompeu seus planos de expansão internacional, mas a Xin adaptou-se ao formato online, organizando mais 83 eventos virtuais. No final de 2020, Terron sentiu que a empresa não correspondia mais ao que havia idealizado e decidiu buscar uma transformação.
Da Xin à Rocket City
A Xin se fundiu com a edtech Rocket City. A fusão resultou em crescimento rápido, passando de 20 para 100 funcionários em menos de um ano e faturando quase oito milhões de reais, com 50 mil alunos impactados. Em 2021, a Rocket City foi vendida integralmente, com Terron cumprindo um contrato de earn-out (período de permanência após a venda) até 2023.
Durante esse período, iniciou sua trajetória como investidor anjo, aplicando recursos em startups como NG.Cash e Confident, um curso de inglês com inteligência artificial (IA). Também tornou-se investidor limitado (LP, do inglês Limited Partner) em fundos como a Norte, consolidando sua experiência no universo do venture capital.
A tese da NewHack
No meio de 2023, Terron refletiu sobre o impacto que poderia ter ajudando múltiplos empreendedores simultaneamente, e não apenas focando em um negócio próprio. Essa visão o levou a criar a NewHack, uma plataforma que combina educação, suporte e investimento para startups em estágio inicial — chamado early stage ou pre-seed, momento em que as empresas ainda validam ideias e buscam estrutura para crescer.
“A experiência de investir em algumas startups me mostrou que, se eu pudesse ajudar mais founders, com educação e suporte estruturado, o impacto seria maior”, diz Terron. “Muitos fundos hoje focam em investimentos maiores em fases avançadas. A lacuna está no início da jornada, onde a NewHack atua.”
A NewHack oferece uma régua de ações que inclui uma comunidade de cerca de 800 founders, um programa de imersão chamado Journey e um programa de aceleração chamado Lab. Esses programas são pagos, mas também contam com subsídios para quem tem potencial e não pode arcar com os custos. Essa estrutura educacional ajuda a preparar startups para o fundo de investimento Entry Point, criado para atuar no mesmo ecossistema.
Fundo de R$ 40 milhões para early stage
O fundo Entry Point, anunciado oficialmente em 2024, tem capital de 40 milhões de reais e investe em startups com valuation (valor estimado) de até 15 milhões de reais. Os cheques de investimento chegam a 800 mil reais por rodada, focando em startups que já tenham alguma validação de produto e receita, mas que ainda estejam nos primeiros passos.
“O fundo é um complemento à educação da NewHack”, explica Terron. “Não investimos em todas as startups que educamos, por isso criamos um fundo separado, com marca própria. Nosso foco é apoiar o início da jornada e preparar os fundadores para rodadas futuras, conectando-os a outros fundos e investidores.”
A composição do capital do fundo inclui aportes do próprio Terron, de de empreendedores que venderam suas empresas e de investidores ligados à economia real, além de engenheiros de software de grandes empresas de tecnologia, que buscam diversificar investimentos, mas não têm expertise para atuar como investidores anjo.
O perfil do founder técnico
Terron reforça que o Brasil precisa formar startups com visão global para disputar mercado internacional. Para isso, aponta barreiras como o domínio do inglês e a educação empreendedora como diferenciais competitivos essenciais.
“O perfil do tech founder, desenvolvedor técnico que identifica problemas e cria negócios, será cada vez mais relevante no Brasil”, afirma. “Nossa missão é formar esses founders com uma mentalidade global e ferramentas para crescer além das fronteiras nacionais.”
A NewHack está presente em eventos nacionais e internacionais, como o Web Summit, onde atua com comunidades universitárias, além de criar espaços de startups em conferências de tecnologia. A empresa mantém parcerias com grandes players como Itaú BBA, Blip, iFood e Inteli, gerando receita com produção de conteúdo e projetos corporativos.
Rodrigo Terron também usa sua presença em palcos para falar sobre fusões e aquisições (M&A) e investimentos, atuando como mestre de cerimônias e palestrante em eventos do setor, fortalecendo sua imagem e a da NewHack.
Visão para o futuro
O projeto de Terron é criar um ecossistema integrado, que vai além do investimento, educando e conectando startups a redes relevantes para acelerar seu crescimento. O foco está no early stage, com uma régua clara de apoio e preparação para captar recursos em rodadas maiores.
“Queremos ser um cluster para founders no estágio inicial, um lugar onde eles encontrem educação, mentoria e acesso a capital”, resume. “Acreditamos que, com essa estrutura, podemos aumentar as chances de sucesso dos empreendedores brasileiros e ajudar o Brasil a ganhar mais espaço no mercado global de tecnologia.”
______________________________________________________
Por Leo Branco
Publicado originalmente em: encurtador.com.br/DW4iG