Um dos propósitos mais importantes do capitalismo é remunerar seus acionistas. Num mercado como o americano, no qual boa parte das empresas tem suas ações de controle negociadas nas bolsas de valores, qualquer descuido na condução de uma companhia pode ser fatal – ou seja, a qualquer hora, a diretoria executiva ou o grupo controlador podem ser despachados para casa sem dó nem piedade pela assembleia de acionistas.
No Brasil, há poucas empresas que podem trocar de mãos no mercado, através do que se chama “take over hostil”. Mas hoje existe uma possibilidade bastante concreta de isso ocorrer: a Sapore, do empresário Daniel Mendez, fez uma oferta pública para adquirir pelo menos 40 % do capital da International Meal Company, responsável no Brasil por marcas como Olive Garden, Frango Assado e Viena, entre outras.
Na edição de hoje do jornal Correio Braziliense, Mendez faz um ataque contundente à diretoria da IMC e defende que, sob seu controle, a rentabilidade da empresa cresceria imediatamente. Confira os principais trechos da entrevista:
“As oportunidades que eu vi na IMC são incríveis, mas o jeito que eles administram é muito ruim. Não estou dizendo que as pessoas sejam ruins, mas eles não entendem de alimentação”
“Os salários que são pagos na IMC são absurdos. Alguns executivos chegam a ganhar 18 salários de bônus e o acionista não ganhou nada, porque a empresa não paga dividendos”
“Em termos de processo e padronização, eu copiei o McDonald’s. Nos serviços, copiei o comandante Rolim, da TAM”
“Em 26 anos eu me tornei o maior do setor e só estou brigando com os dois maiores do mundo. Imagina o que eu passei para chegar onde cheguei”
“Tenho uma companhia voltada para o resultado, então a gente paga salário na média do mercado e no fim do ano a gente divide o que dá de dinheiro”
“No setor de alimentação, as margens são muito pequenas, então você estimula os executivos com o desafio de trazer volume. No nosso negócio, não dá para pagar salários de outros setores”
“Juntando as duas companhias (Sapore e IMC), vamos ter uma empresa de R$ 3 bilhões de faturamento líquido. E aí faz sentido ter uma companhia aberta. E se juntar as duas rentabilidades, dá um Ebitda de quase R$ 300 milhões”
“A IMC não precisa de um controlador, mas de um operador. Do lado operacional, a IMC tem hoje vários tipos de coxinha, três tipos de hambúrguer. O Viena usa um, o Frango Assado usa outro. Se você tem empresas pequenas, isso não faz sentido”
“Na Sapore, todas as cozinhas são locais. Construímos uma cadeia de fornecedores. Muitas unidades minhas não cortam cebola, já recebem cortadas. Isso não se constrói da noite para o dia”
“Na IMC, eles cortam o bife em cada Viena, não tem lógica. Que padronização você tem quando o cara corta? Você pode ter o melhor forno, padronizado. Mas se colocar cada bife de um tamanho, vai passar do ponto em alguns casos, e sair malpassado em outros”
“E o desperdício que tem nos Vienas com aquele bufê por quilo do jeito que está hoje? Alguns jogam fora mais do que servem. A Sapore tem tecnologia para grandes quantidades, sabemos como fazer isso”
“O Frango Assado tem 26 restaurantes. O Viena tem 100 e poucos, mas só 30 funcionam mesmo, porque o resto está às moscas. O Coco Bambu já faz um Ebitda maior que a IMC, acabou de fazer”
“Agora, tenho um projeto que é meta de zero de desperdício, ou seja, não jogar um grão de arroz fora. Hoje, jogamos mais de 30 mil porções de comida pronta por dia no lixo. Que eu tenha um lucro de R$ 1 em cada uma dessas porções: são R$ 7 milhões no ano”
“Eu vi que esse mercado precisava encarar o cliente como um usuário e não encarava. Encarava como peão de fábrica. Não se importava com a satisfação do usuário”