Pesquisar
PATROCINADORES
PATROCINADORES

Os sindicatos começam a mirar em Gabriel Galípolo

Foi um protesto sem muitos manifestantes, que chamou a atenção apenas de alguns transeuntes – mas que carrega uma simbologia forte. Ontem pela manhã, algumas entidades ligadas ao sindicalismo, como a Força Sindical e a União Geral dos Trabalhadores, fizeram uma concentração na Avenida Paulista para protestar contra a mais que provável decisão do Comitê de Política Monetária de elevar hoje a taxa Selic, que baliza os juros praticados no mercado. “Galípolo não pode pipocar”, gritaram os sindicalistas. Em frente ao caminhão de som, para dar um tom brincalhão ao evento, havia um… carrinho de pipoca.

Curiosamente, a manifestação foi programada justamente em uma semana na qual, pela primeira vez em 2025, os agentes financeiros começam a prever o final do processo contínuo de alta das taxas. O Boletim Focus apontava que a previsão do mercado era de o ano terminar com juros de 15%. Na última segunda-feira, porém, a expectativa baixou para 14,75%.

Para hoje, espera-se que a Selic seja elevada em 0,5% e chegue a 14,75%. Apesar disso, ainda existe expectativa em relação às decisões do Copom no segundo semestre. Dependendo do comportamento da inflação, pode ser que haja novos aumentos. Mesmo assim, os analistas preveem que, a partir de setembro, o Copom opte pela estabilidade ou declínio de taxas, fechando o ano em 14,75% — exatamente o mesmo patamar que deverá ser fixado amanhã.

A movimentação dos sindicatos em relação aos juros, no entanto, mostra que há uma insatisfação da esquerda com a gestão de Gabriel Galípolo à frente do Banco Central. De perfil técnico e respeitado por analistas do sistema financeiro, Galípolo manteve a política monetária estabelecida por seu antecessor, Roberto Campos Neto, e continuou elevando as taxas, uma vez que a espiral inflacionária não cedia.

Quatro líderes sindicais manifestaram essa insatisfação ao jornal “Folha de S. Paulo”. Miguel Torres, da Força Sindical, disse: “Havia a expectativa de que algo mudasse com o novo presidente [do BC], mas estamos em um caminho perigoso. Já Ricardo Patah, da UGT, criticou: “Tem sido a mesma coisa, o prejudicado é sempre o trabalhador”. Adilson Araújo, da Central dos Trabalhadores do Brasil, ressaltou que “o Deus Mercado não sabe e está pouco preocupado com o custo do arroz e do feijão no supermercado”. Por fim, Sergio Nobre, da Central Única dos Trabalhadores (ligada historicamente ao PT), reclamou que “esperava uma mentalidade nova [de Galípolo]”.

Bem, ninguém em sã consciência pode dizer que juros altos sejam bons para a atividade econômica. Mas, em determinados momentos, especialmente quando há uma ameaça constante de aumento dos preços (em um cenário no qual o governo federal não se mostra comprometido com esforços para reduzir gastos públicos), é preciso enxugar a liquidez do mercado através da elevação de taxas.

Neste momento, se promovermos uma queda brusca, corremos o risco de repetir o que ocorreu no governo de Dilma Rousseff: a diminuição dos juros que acabou provocando uma repique nos preços. Os líderes sindicais, entretanto, parecem não saber que a economia é regida por determinados princípios e preferem o caminho da demagogia.

Por trás deste movimento sindicalista está a ação de uma grande massa de militantes dos partidos de esquerda, incluindo o próprio PT. Esta seria uma forma de pressionar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a enveredar por uma condução econômica heterodoxa e cobrar de Galípolo juros menores (uma pauta que raramente esteve na agenda dos sindicatos).

Lula já se mostrou insatisfeito com o atual patamar das taxas e sempre que pode demoniza o mercado financeiro. Esse pode ser o gancho que esperava para voltar à carga contra o BC. A inflação pode sofrer nova elevação? Para o presidente, isso não tem importância e poderia ser resolvido depois. Só que, no futuro, o remédio pode ser bem mais amargo – como vimos no início do governo de Michel Temer, quando o então ministro Henrique Meirelles teve de fazer um freio de arrumação na economia.

Como o ano que vem é de eleição, os ajustes teriam de ser feitos apenas após o pleito, com efeitos ainda mais perniciosos para todos. Vamos torcer para que Galípolo se mantenha firme agora para não sofrermos mais no futuro.

Compartilhe

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pesquisar

©2017-2020 Money Report. Todos os direitos reservados. Money Report preza a qualidade da informação e atesta a apuração de todo o conteúdo produzido por sua equipe.