Pesquisar
PATROCINADORES
PATROCINADORES

Nobel condena big techs: IA ainda não é séria

Premiado por mapear a economia das ideias, Paul Romer critica uso indiscriminado de modelos de linguagem, defende ciência e cobra transparência corporativa

Na manhã desta quarta-feira, (12), o auditório principal da Febraban Tech foi palco de críticas e alertas contundentes. Em sua participação no painel “Inovação, crescimento e o futuro da economia na Era da Inteligência”, evento de tecnologia bancária, o Prêmio Nobel de Economia Paul Romer se apresentou contrário ao modo com que a IA é aplicada, especialmente pela grandes empresas de tecnologia.

“Empresas te vendem uma ideia de que a IA vai resolver tudo com precisão só para ganhar dinheiro. Querem fomentar uma mentira”, disparou logo de início. “A IA nunca será 100% precisa. E quando esses erros acontecem, podem custar vidas”, completou, citando o caso do carro autônomo da Tesla, cujo software falhou ao confundir a luz do sol, desviando da pista e até atropelar uma mulher.

Segundo Romer, estamos vivendo um momento perigoso, em que as promessas de progresso tecnológico superam a cautela, a transparência e a responsabilidade. “As empresas não estão focadas em fazer o certo. Escondem falhas em vez de comunicá-las. Isso mina a confiança. A ciência nunca fez isso. A ciência sempre respeitou a reputação.”

Durante sua apresentação, o ex-economista-chefe do Banco Mundial e professor do Boston College destacou que o verdadeiro progresso econômico sempre dependeu do compartilhamento de ideias e da construção de conhecimento sólido. Ele relembrou sua teoria sobre a “economia das ideias”, que ganhou o Nobel em 2018, como contraponto ao hype tecnológico atual.

Machine Learning, sim, IA, menos

Romer questionou a própria nomenclatura adotada pela indústria. “Não gosto de chamar isso de inteligência artificial. Preferiria algo como LML — Limited Machine Learning [aprendizado limitado de máquina ]”, sugeriu. Para ele, o termo “inteligência” carrega promessas que a tecnologia atual está longe de cumprir. “Você foi alimentado com uma linha. Nunca teremos precisão total. Isso não deveria ser vendido como verdade.”

Ele também atacou diretamente a Anthropic, empresa que enfrenta processos judiciais após seu modelo de chatbot Claude AI gerar documentos falsos para tribunais. “Ninguém tentou investigar os fatos, como o NTSB [Conselho Nacional de Segurança nos Transportes] faz em acidentes. Isso é o básico da ciência. Isso é o que falta no mundo da IA hoje.”

Propostas para um futuro mais seguro

Apesar das críticas, Romer não é um tecnófobo. Ele vê utilidade nos modelos de IA, desde que usados com responsabilidade, limites claros e um processo contínuo de experimentação.

“Construa sua própria ferramenta. Se tiver erros, comunique. Faça as pessoas entenderem. Não esconda. E experimente. Teste. Reveja. Em dez anos, veremos a diferença entre isso e o que está sendo vendido agora.”

Romer também defendeu uma abordagem científica para lidar com os erros inevitáveis das tecnologias emergentes. “Erros são caros. E o que temos visto são empresas querendo vender logo, e não esperar para fazer direito.”

O economista encerrou com um aviso simples e direto: “A IA é interessante, mas ainda é fraca. Não a leve tão a sério. E, acima de tudo, não confie cegamente no que cientistas da computação querem vender.”

Compartilhe

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pesquisar

©2017-2020 Money Report. Todos os direitos reservados. Money Report preza a qualidade da informação e atesta a apuração de todo o conteúdo produzido por sua equipe.