Falta pouco mais de um ano para as eleições presidenciais e o Congresso Nacional está dando um recado claríssimo ao governo: não quer aumentar os impostos. Além disso, mostra que o gato está subindo no telhado e que boa parte dos aliados de hoje não estará na coalizão política de amanhã. Políticos têm um instinto de sobrevivência aguçado. Portanto, se estão ensaiando um desembarque no apoio ao Planalto é porque existe uma razão muito palpável para isso.
A mais visível é a impopularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Deputados e senadores estão sempre tomando o pulso do eleitorado e percebem que esta gestão tem inúmeros problemas para emplacar uma narrativa positiva. Se Lula gozasse de alta aprovação, o Legislativo pensaria duas vezes antes de emparedar o governo.
Mas existe um outro ponto que estimula o atual confronto, já que o Parlamento dá mostras de que deve rejeitar as mudanças no pacote que eleva os impostos, apresentado nesta semana. Os congressistas notaram que os eleitores mudaram ao longo dos últimos dois anos, rejeitando propostas paternalistas de esquerda e se aproximando mais do centro e da direita. Diante disso, a intenção de permanecer vivo acaba falando mais alto.
Há outro problema: a falta de diálogo. O presidente da Câmara, Hugo Motta, reclamou há duas semanas que o projeto original do governo para elevar a arrecadação e manter o déficit sob controle foi divulgado sem que houvesse conversas com o Congresso.
Ensaiou-se a construção de uma ponte entre Legislativo e Executivo, mas as medidas adotadas não agradaram os parlamentares. Mesmo assim, Lula insistiu em publicar o pacote. A reação no Congresso, segundo Motta, foi “muito ruim”, e partidos aliados como União Brasil e PP devem fechar questão contra a medida provisória do governo.
Para piorar, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, envolveu-se na quarta-feira em uma confusão danada com os deputados Carlos Jordy e Nikolas Ferreira na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara. Os dois parlamentares provocaram o ministro e saíram do salão. Haddad disse que o comportamento dos dois era “molecagem”. Os parlamentares retornaram e o clima fechou. “Moleque é você”, rebateu Jordy. O tumulto tomou conta da reunião e Haddad resolveu ir embora. Os oposicionistas adoraram. E começaram a gritar: “Fujão!”.
Em política, porém, tudo pode ser remediado. Mas há pouco tempo para convencer os deputados a aderirem ao projeto que substitui o aumento do IOF com outras arrecadações. Ontem, a Câmara resolveu votar o regime de urgência do texto já na segunda-feira.
Haddad esta nesta situação apenas porque está cumprindo as ordens do presidente, que não quer saber de cortar gastos públicos. O ministro, assim, repete a saga de Guido Mantega, que concentrava as críticas da imprensa e do Congresso por seguir o que queria a presidente Dilma Rousseff em seu primeiro mandato. A diferença entre os dois é que Mantega sempre foi um tecnocrata, enquanto Haddad é um político que pode ter seu futuro comprometido por lealdade a Lula. Até quando Haddad vai aguentar?