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Guilherme Benchimol e o perigo de se fazer previsões durante a pandemia

Para o fundador da XP Investimentos, Guilherme Benchimol, correr riscos é algo corriqueiro. Quando se atua no mercado acionário, fazer previsões e eventualmente errar é algo que está nas regras do jogo. Mas traçar cenários macroeconômicos e financeiros para decidir suas aplicações nas bolsas de valores é uma coisa. Já arriscar palpites sobre algo tão desconhecido como a pandemia causada pelo coronavírus é outra, completamente diferente.

O jornalista Elio Gaspari, em coluna publicada ontem (10), resgatou uma previsão de Benchimol, feita na semana passada: “Eu diria que o Brasil está bem. Nossas curvas não estão tão potenciais ainda, a gente vem conseguindo achatar”. O que se viu, nos dias seguintes, foi uma disparada nos casos de contaminação e nas mortes registradas. O Brasil, infelizmente, ainda não conseguiu reduzir o crescimento na curva de contágio e as UTIs chegam perigosamente perto de sua ocupação máxima, sendo que em alguns hospitais e cidades o gargalo já começou.

A um leigo como Benchimol é até permitido o risco de se dar palpites sobre um assunto que, em tese, não tem conhecimento profundo, movido pelo que os americanos chamam de “wishful thinking”. Um profissional de saúde, formado em medicina, e igualmente uma figura pública, porém, não pode fazer prognósticos baseados puramente em seus desejos particulares. É o caso de Osmar Terra, que minimizou os números projetados por colegas e afirmou que haveria menos vítimas de coronavirus do que de gripes sazonais. Como se não bastasse, menosprezou o número de mortes ocorridas até agora. “Só tem 10 000 mortos nessa quarentena”, afirmou, em debate virtual promovido pela Globonews no sábado (9).

Terra fala como se os números fossem uma mera estatística e a pandemia já tivesse encerrado. O recrudescimento da curva de crescimento das fatalidades no Brasil, contudo, mostra que é um momento de preocupação e de profunda reflexão sobre o que se deve fazer. É preciso muita ponderação para não cair em esparrelas inúteis como a decisão do prefeito paulistano Bruno Covas, de inventar um rodízio de carros que vai aumentar o uso dos transportes coletivos e, assim, elevar as chances de contágio nos ônibus e no metrô.

Tempos de difíceis geralmente são pródigos em previsões erradas. Na esteira do Crash da Bolsa americana em 1929, por exemplo, havia dois grandes serviços de consultoria financeira nos Estados Unidos, ambos ligados a universidades de renome (Harvard e Yale). Nenhum previu o estouro da bolha – mas vamos deixar isso de lado. Em 1931, os analistas de Harvard afirmavam que o fim da recessão estava próximo, o que só ocorreu totalmente quando o país entrou na Segunda Guerra Mundial, em 1941. Também em 1931, os especialistas de Yale afirmavam o fundo do poço da recessão teria sido atingido em setembro. Como se sabe, os efeitos mais nefastos da Depressão americana ocorreriam somente em 1933.

Se economistas conseguem errar previsões em cenários regidos teoricamente por fórmulas matemáticas, o que dizer de situações pandêmicas que sofrem a ação de variáveis totalmente imprevisíveis, fruto de um desconhecimento abissal sobre o comportamento do coronavírus?

É um risco altíssimo entrar nessa seara no escuro. Por isso, entende-se a cautela excessiva dos profissionais de saúde em lidar com a crise sanitária. Todos – técnicos ou não – estão sob a influência de seus sentimentos particulares sobre o tema. Neste caso, uns são adeptos do viés pessimista e outros otimistas de carteirinha. Além disso, os analistas também sofrem a ação psicológica dos números do momento, que denotam um crescimento descontrolado. Isso também interfere, pelo jeito, nos prognósticos.

A influência do presente sempre terá interferência naquilo que desejamos enxergar no futuro. Tomemos aqui um exemplo também saído dos anos 1930. Um dos herdeiros da Heinz & Co., Rust Heinz, resolveu projetar, naquela data, o que seria o carro do século 21. Desenhou e construiu, então, o Phantom Corsair, um automóvel arrojado e de linhas futuristas. Só que nada tem a ver com o que vemos hoje nas ruas. Trata-se de simplesmente um veículo dos anos 1930 modernizado, criado por quem não tinha, no início do século passado, os conhecimentos de aerodinâmica que qualquer estudante de design possui nos dias de hoje. Assim, é uma fotografia do presente adaptada ao futuro – exatamente como fazemos ao tentar imaginar os próximos passos da pandemia. Uma tarefa para lá de inglória.

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