O setor privado brasileiro adora culpar o governo pelos seus problemas, mas corre para ele sempre que se vê numa situação desconfortável. Até um dos setores mais avessos à atuação estatal começou a pressionar por uma “ajudinha”: o mercado financeiro. A alta do dólar, a queda da bolsa e a manutenção da Selic em 6,5% ao ano, quando a expectativa era redução de 0,25 ponto porcentual, impuseram perdas aos fundos multimercado. Bastou isso para aparecerem os gritos pedindo alta de juros. Há um certo embasamento técnico por trás do argumento: a alta do dólar pressiona a inflação, o que demandaria aperto monetário. Para Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, não há motivo algum que justifique a alta dos juros. “A inflação está abaixo da meta e o repasse do câmbio ainda não é suficiente para pressionar a alta de preços.” Ele só vê um motivo para explicar a alta: facilitar a vida dos gestores de fundos: ajudar os fundos a ganhar dinheiro. “O mercado brasileiro sabe ganhar dinheiro comprando bolsa, vendendo dólar e dando pré. Aí o cenário não favoreceu essa estratégia e os fundos saíram machucadíssimos”, diz. “O Banco Central tem uma série de funções. Garantir bônus de gestores de fundos não é uma delas.”