Um levantamento da consultoria RK Partners mostra um quadro alarmante: 45% das empresas de capital aberto têm endividamento três vezes superior à sua capacidade de gerar caixa. Do total de companhias abertas, ainda, um quarto chegou ao final do ano passado sem capacidade de pagamento das dívidas financeiras. E, last but not least, cerca de 20 % desses CNPJs tinham uma dívida seis vezes maior que sua geração de receitas.
Esse quadro é reflexo de uma economia que anda de lado do final de 2021 para cá, exatamente o período em que os juros começaram a disparar por conta do crescimento da inflação. Se uma empresa dependeu de empréstimos neste prazo para sobreviver, a chance de um estrangulamento financeiro pode crescer bastante em um momento como o atual.
O estudo da RK, no entanto, diz respeito apenas às empresas abertas. Isso sugere que talvez o cenário entre as companhias limitadas deva ser ainda pior. Trata-se de um panorama preocupante, que pode trazer empecilhos para a retomada econômica e para a arrecadação do governo federal.
Se as empresas estão muito endividadas, terão dificuldades de elevar o capital de giro necessário para fazer frente às demandas de seus clientes, uma vez que os bancos podem não querer aumentar a própria taxa de risco. Neste quadro, especialmente entre as de capital de fechado, é uma prática comum que o pagamento de tributos seja empurrado com a barriga para que se liquidem despesas mais urgentes.
Ou seja, o governo pode ter de lidar com aquilo que mais teme: um desempenho medíocre da economia combinado com uma arrecadação cadente. Para quem precisa dar explicações a toda hora sobre déficit estatal, como o ministro Fernando Haddad, isso seria um verdadeiro pesadelo.
Mas talvez o quadro não seja tão sombrio assim. Os bancos não estabeleceram políticas generalizadas de arrocho de crédito. Eventuais movimentos nesse sentido são pontuais e, no máximo, atingem determinados setores. Mas, em geral, as operações de empréstimo estão fluindo, com as instituições financeiras mais preocupadas em rolar dívidas do que executá-las.
De qualquer modo, porém, as empresas terão de voltar a inflar seu faturamento, pois precisam reduzir a sua exposição de caixa. Para isso, no entanto, é necessária uma atividade mais forte, assim como um consumo com maior musculatura.
O cenário internacional, porém, é uma pedra no sapato das autoridades financeiras. Nos últimos dias, a expectativa foi de que os juros americanos não iriam subir. Mas essas previsões podem mudar, pois o cenário está muito volátil. De qualquer forma, ainda há espaço para que as taxas brasileiras possam diminuir um pouco. Mas a expectativa é que o ritmo de baixa tenha sua velocidade reduzida e que os juros de dezembro, em vez de ficarem em 9,25%, se estabilizem entre 9,5% e 9,75%.
Taxas menores serão importantíssimas para reduzir o endividamento das empresas. Mas as vendas precisam reagir para diminuir um endividamento acima daquilo que seria razoável. Nesse momento, porém, todo o cuidado é pouco. Como diria o professor Stephen Kanitz, as empresas precisam tomar cuidado no momento da retomada, pois nem sempre têm acesso a um grande volume de linhas de crédito para curto prazo. E eventual descasamento significativo entre o custo de produção e o recebimento das vendas pode se tornar um problema difícil de resolver.
Uma resposta
O cenário varejista é muito preocupante.
Americanas (RJ)
Dia (RJ)
Polishop (RJ
Coteminas (RJ)
Casas Bahia (RE)
Marisa com endividamento absurdo.
E a lista só aumenta.